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O terror da plutocracia: união e pensamento crítico

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“Ausência de Ciro Gomes em prisão de Lula incomoda a esquerda”. Assim está dado o tom de manchetes referentes à situação de Lula e às posições de Ciro Gomes. Tom este pautado por gente que sabe muito bem o que quer, ainda que nesta mesma ocasião, em coletiva, Fernando Haddad e Jacques Wagner tenham reafirmado a qualidade de Ciro como postulante progressista ao Planalto.
Nos últimos dias, após a prisão do ex-presidente Lula e o evento que a antecedeu em São Bernardo, Ciro Gomes virou alvo de alguns setores da esquerda por não se fazer presente.
Já é sabido, porém, que o pedetista estava em Harvard, acompanhado de figuras como Flávio Dino, governador do Maranhão pelo PCdoB, e Alexandre Padilha, vice-presidente do PT Nacional, para um ciclo de palestras. Apesar disso, como Ciro já alertou, há uma certa turma que tem pavor à ideia de uma possível união nacional progressista.
Volta e meia, ouvem-se críticas à possibilidade de um campo progressista fragmentado no segundo turno. Esquece-se, porém, que os liberais e direitistas estão também esfacelados entre si: existem as pré-candidaturas de Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Flávio Rocha… e ainda tem mais nome na lista.
Não há problema com o número de candidaturas do campo progressista em 2018. É, inclusive, saudável e natural que haja mais de uma candidatura, para que se delimitem bem os interesses representados e incorporados por cada uma e seus projetos de país. Isso, porém, não serve de desculpa para o fogo amigo que uma certa imprensa plutocrata tenta instalar e fomentar entre os postulantes ao cargo de presidente da República (e seus aliados partidários e ideológicos) que transitam pelo campo progressista, e que, infelizmente, volta e meia é adotado por alguns desavisados.
Mais de uma vez, contudo, nos últimos dias, vimos manchetes de vários jornais e blogs, inclusive do lado da esquerda, dando eco e fazendo coro a algumas narrativas que não existem, sendo exemplos mais notórios: a de que Guilherme Boulos, presidenciável pelo PSOL, estaria cobrando de Ciro Gomes sua presença no evento em São Bernardo e na vigília de Lula em Curitiba; a de que Ciro teria se recusado a comparecer a São Bernardo por não ser “puxadinho do PT”; ou a de que Ciro, por não comparecer ao evento, estaria sendo expurgado do campo progressista.
Uma vez que se analisem os contextos e ouçam-se as frases relativas às situações narradas, porém, percebemos a enganação. Boulos, por exemplo, nunca cobrou nada de Ciro: apenas, tranquilamente, disse que gostaria de sua presença nos eventos. O destaque dado por alguns blogs e jornais à frase de Boulos se dá de forma a parecer que existiu uma exigência, um sentimento de traição da parte de alguma esquerda pela ausência de Ciro, o que não é verdade ao analisarmos a completude de sua declaração. O psolista deixou claro que Ciro é uma das grandes lideranças a representar o campo progressista e democrático e lembrou, em todas as ocasiões em que foi perguntado, que Ciro esteve muito clara e fortemente contra o golpe parlamentar de 2016.
Disse Boulos em sua última frase descontextualizada pela mídia: “Espero que Ciro venha para cá. Ciro se colocou na defesa da democracia no momento em que houve o golpe parlamentar no Brasil, mas é ele que precisa dizer porque não veio ainda”. Não há cobrança. Há, inclusive, a orientação ao repórter de que pergunte ao Ciro, e não ao Boulos, o porquê da ausência, se é que há necessidade de um “porquê”, dadas as públicas declarações de solidariedade a Lula que Ciro já manifestou.
Também é falsa a declaração veiculada em alguns blogs que diz que Ciro não compareceu ao evento por não ser “puxadinho do PT”. Ainda que ele tenha dado a declaração, ela não foi dada a fim de explicar sua ausência. Ao contrário, Ciro relembrou que apoiou o PT por 16 anos, dando ênfase aos acertos das administrações, mas não absolvendo os erros.
O mesmo tipo de manobra aconteceu com Jacques Wagner, do PT, que teve a si atribuídas uma cobrança e uma crítica a Ciro, quando, na verdade, aconteceu bem o contrário. Wagner disse que Ciro é “um quadro da melhor qualidade, apesar de algumas falas desnecessárias”, referindo-se a críticas que o pedetista não poupa ao PT, sem procurar algum tipo de afastamento do presidenciável.

Momento é de ampla união nacional

Num momento em que entidades como o MBL e setores comprometidos da imprensa estão dispostos a cair de relho em cima da imagem de Ciro e de qualquer progressista brasileiro (e já deixaram claro que estão dispostos a qualquer manobra para isso) e desmontá-la perante a sociedade brasileira, é sensato que o campo progressista contribua com tal tarefa, especialmente considerando que nem sequer os demais pré-candidatos estejam atacando o candidato cearense?
Leonel de Moura Brizola enfrentou os mesmos problemas frente a desavenças miúdas com Lula e o PT (constantemente a partir de intrigas instaladas pela mesma imprensa). Não é um comportamento novo. É velha a vontade de alguns setores do Brasil de que nunca se unam os progressistas e os nacionalistas, pois trata-se de uma das mais transformadoras e revolucionárias combinações de forças do país.
Prestemos atenção. Não vamos jogar o jogo da segregação, do acirramento da divisão odienta. Vamos ao debate limpo, claro e de ideias, e deixemos os adjetivos em casa, mesmo em se tratando de nossos opositores. Essa é uma luta que só poderá ser vencida com o diálogo, e se nem sequer o campo progressista dialogar, que esperar de quando precisarmos debater com os liberais, com os entreguistas da nação? A imagem de Lula não pode ser a única força vetorial a pautar o rumo do debate nacional, independente do quão importante seja ele como liderança – e é a mais popular e importante das últimas décadas -, especialmente se for para pautar rumo à divisão de forças.
Ciro Gomes – assim como Guilherme Boulos, Manuela D’ávila, Fernando Haddad, Jacques Wagner, dentre tantos outros – ocupou um lado claro e específico durante toda a crise brasileira que se alastrou nos últimos anos: o lado contrário ao golpismo, ao autoritarismo, aos abusos de um Judiciário paladino, ao atropelamento da Constituição, ao liberalismo cego – e utópico – que só interessa aos interesses estrangeiros, bem como se coloca vocal e claramente com disposição para enfrentar de frente os problemas da desigualdade nacional e da miséria. Está, como os demais citados, ao lado da democracia, da justiça imparcial e, principalmente, do desenvolvimento nacional e da justiça social.
Decidamos: que caminho trilharemos? O que satisfaz aos oligopólios da comunicação e instala a intriga entre nós mesmos, dificultando a união, ou o que satisfaz aos melhores interesses nacionais e amedronta os plutocratas?

Em tempo, até a publicação deste artigo, a colunista Mônica Bergamo, da Folha de SP, publicou uma matéria atribuindo a Ciro Gomes a certeza e expectativa de que “PT lhe apoiaria por medo de um fracasso eleitoral”. A InfoMoney reproduziu entre aspas como se fosse frase de Ciro. Clique aqui para ler o texto.