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As taxas de desemprego retratam nossas desigualdades

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Não por acaso, o primeiro dos 12 passos propostos por Ciro Gomes para transformar o Brasil trata da geração de postos de trabalho. Vimos, ao longo do primeiro trimestre de 2021, o desemprego, a desocupação e o desalento atingirem taxas recordes. Entretanto, esse trágico (embora previsível) cenário não afeta igualmente todos os brasileiros. No país da desigualdade, o desemprego retrata nossos abismos sociais. Ele tem sexo, cor e classe. O desemprego é mulher, é preto, é jovem e teve pouco acesso à educação formal.
 

Nosso desemprego é mulher

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), divulgados em maio deste ano, o Brasil alcançou, entre janeiro e março de 2021, taxa recorde de desemprego (14,7%). Isso significa dizer que mais de 14% de nossa força de trabalho está parada. São 14,8 milhões de pessoas desempregadas, 33,2 milhões de brasileiros subutilizados e 6 milhões de desalentados (àqueles que desistiram de procurar vagas de trabalho).
Entretanto, enquanto a taxa de desemprego ficou em 12,2% para os homens, 17% abaixo da média nacional (14,7%), entre as mulheres, alcançou seu ápice, ficando em 17,9%, índice 21,8% maior que a média do país.
Mais do que números, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo IBGE, representam os traços capazes de compor o retrato histórico da desigualdade brasileira. Apesar de serem responsáveis pelo sustento da maior parte dos lares, possuírem as maiores jornadas de trabalho, maior grau de escolarização e ganharem os menores salários, as mulheres são as primeiras a serem dispensadas.
Um fator que pode nos ajudar a compreender tal disparidade é o tipo de trabalho reservado às mulheres no Brasil. Ocupando vagas ligadas ao comércio, alojamento, serviços domésticos e alimentação, a população feminina ficou mais suscetível à crise econômica brasileira, aprofundada pela pandemia do novo Coronavírus. Por outro lado, tendo os cargos de gerência e diretorias em suas mãos, os homens foram menos impactados.
Outro fator relevante é o acúmulo de funções. Culturalmente pressionadas a se responsabilizar pelos cuidados com a casa e filhos, as mulheres têm maior intermitência no mercado de trabalho. Seja por permanecerem menos tempo empregadas, por terem maior rotatividade entre vagas ou por necessitarem sair do mercado para cuidar dos filhos, o fato é que, neste primeiro tri, a taxa de desocupação entre as mulheres foi 46,7% maior que a dos homens.
 

Nosso desemprego é preto

Além de ter sexo definido, o desemprego no Brasil tem cor. Em tal recorte, os dados do IBGE indicam que, seguindo a tendência histórica, o desemprego foi maior entre pretos e pardos.
Taxas de desemprego - por cor ou raça
 
Embora, entre os brancos, a taxa de 11,9% seja a mais alta da série histórica (desde 2012, portanto), ela ficou 19,04% abaixo da média brasileira. Já entre os pretos, a taxa de desemprego foi 26,53% mais alta que a média. E, entre os pardos, 14,96%. Os números indicam, assim, novo recorde no índice de desemprego entre os pardos e a segunda pior taxa observada entre os pretos (o recorde foi registrado no terceiro trimestre de 2020, quando alcançou 19,1% da força de trabalho nacional).
 

Nosso desemprego mora no Nordeste

O retrato desenhado pela pesquisa também explicita o abismo existente entre o sul e o norte do Brasil. As maiores taxas de desemprego foram registradas em unidades federativas do Nordeste: Bahia e Pernambuco (21,3%), Sergipe (20,9%) e Alagoas (20%), todas acima da média nacional. Já os menores índices apareceram nos estados do Sul: Santa Catarina (6,2%), Rio Grande do Sul (9,2%) e Paraná (9,3%).
Em relação à renda, a disparidade entre Norte e Sul se mantém. O rendimento médio do brasileiro ficou em cerca de R$ 2.500. Contudo, os trabalhadores do distrito federal recebem em média R$ 4.345, enquanto os maranhenses, cerca de R$ 1.484.
 

Nosso desemprego é jovem e pouco escolarizado

Lamentavelmente, o trágico retrato do presente brasileiro já castiga nosso futuro. Além de afetar agudamente mulheres e negros, jovens de 18 a 24 anos também estão entre as maiores vítimas do desemprego. De acordo com os dados da Pnad Contínua, a taxa entre eles ficou em 31%, índice mais de duas vezes superior à média nacional.
Para os brasileiros entre 25 e 39 anos, a taxa ficou na média, 14,7%. Já para a faixa etária dos 40 aos 59 anos, ficou em 9,7%, para as pessoas acima de 60 anos, em 5,7%.
 

Nosso país precisa de um projeto

Desde 2018, Ciro e o PDT têm, sistematicamente, alertado sobre a importância de um Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND). Desde a década de 1980 não há, no Brasil, nenhum programa consistente de retomada do crescimento. Estamos estagnados.
Sem indústria e planejamento estratégico, estamos fadados a permanecer importando, em dólar, produtos de alto valor agregado, gerando empregos com altíssimos salários no exterior.
Variação de vagas por atividade
Dessa forma, condenamos o país a se manter como exportador de matéria bruta, sem valor agregado, gerando apenas vagas de baixa remuneração média em nosso território. Vale destacar que os dados deste primeiro trimestre mostram que a indústria segue entre os setores mais fragilizados de nossa economia.

Até quando o Brasil aguenta?

De acordo com o diagnóstico de Ciro, esmiuçado na obra “O Dever da Esperança”, e com números apresentados na última Pnad, já esticamos a corda para além do aceitável. Como escancarado pelos dados, estamos deliberadamente condenando mais uma geração à miserabilidade, insegurança e desigualdade.
Investir, com base em um plano bem delineado, no desenvolvimento de setores estratégicos, em educação emancipadora voltada a preparar jovens à economia do conhecimento e, claro, em políticas voltadas à redução das desigualdades é o único caminho para o Brasil voltar a crescer.
Um país que não cresce não é capaz de gerar emprego. Sem emprego, o consumo cai. Sem consumo, a economia para. É um ciclo perpetuado há décadas no Brasil, tem massacrado gerações inteiras de brasileiros. Essa roda viva, alimentada por políticas neoliberais mofadas, não apenas mantém, mas amplia nossas desigualdades históricas.

A 12 passos de um novo Brasil

Assistimos, ao longo da pandemia, o resultado funesto da falta de planejamento, investimento e soberania. Mais uma vez, as maiores vítimas de nossa mais recente tragédia foram as populações mais vulneráveis. Dar um passo em direção ao futuro exigirá, necessariamente, abrir uma trilha entre escombros, definir uma rota capaz de fazer o Brasil voltar a florescer.
Há anos Ciro Gomes tem buscado delinear esse caminho. Tem proposto, em 12 passos, as bases que podem transformar o país da desigualdade em uma nação mais equânime, verdadeiramente soberana e altamente competitiva.
Resta saber se seremos capazes de trilhar, juntos, esse percurso rumo ao futuro ou se seguiremos, fragmentados, presos ao passado que nos trouxe até aqui.