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A roda viva de Ciro Gomes

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Este ano, o programa Roda Viva da Tv Cultura, que contava com a icônica música de Chico Buarque em sua abertura, completará 32 anos. Entre suas inúmeras entrevistas, com edições históricas, terá amanhã sua 7ª edição com Ciro Gomes.
Em 1991, o muito jovem e precoce governador do Ceará não havia inteirado 33 anos quando participou de sua primeira entrevista e, ainda ocupando o mesmo cargo, voltou ao programa em 1993. São poucos os registros disponíveis dessas duas participações. Entretanto, nas seguintes entrevistas o amadurecimento, em amplo sentido, se faz a olhos vistos, na lapidação contínua de reflexões do acadêmico, no ajuste de perspectiva de político, no traquejo do homem público que, ainda em 1991 não se furtava a debates e enfrentamentos. O país que tanto se transformou entre o início da década de 1990 e 2005 (última participação de Ciro Gomes no Roda Viva), teima em não mudar e ainda coloca como questões centrais o redesenho do Estado brasileiro e a instabilidade política e economia.
Amanhã, Ciro Gomes entra novamente no círculo de sabatina do Roda Viva com mais tempo de vida pública, 38 anos, do que tinha de vida em sua primeira participação. Apontar as mudanças daquele Ciro para o Ciro pré-candidato à presidência da república pela terceira vez é fácil, tão fácil quanto perceber as constâncias que sempre balizaram sua carreira.

Eu digo o que penso

O terceiro programa com Ciro Gomes, então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, em 1994, o apresentador Heródoto Barbeiro introduziu seu convidado de forma muito peculiar:
“O ministro da Fazenda, Ciro Gomes. Deputado estadual, prefeito de Fortaleza e Governador do Ceará, tudo isso com quase 37 anos de idade. A vida corre rápida para Ciro Gomes, apesar da velocidade, se o ministro fosse comparado hoje a um veículo a imagem mais apropriada não seria a de um Fórmula 1, mas de um trator. É que Ciro Gomes costuma ser firme em suas opiniões…”
Introdução logo seguida por uma pergunta sobre seu temperamento e sobre seu vocabulário (a imprensa também tem suas constâncias). Ao que Ciro, como ainda faz, respondeu: “Eu não quero dizer que isso é o certo não, eu quero dizer que isso sou eu. Eu digo o que penso.”
Ciro, como um trator, defendeu com firmeza a solidez do Plano Real e a necessidade de agir para protege-lo a fim de livrar o país, de vez, do problema da hiperinflação e empreender, no início do próximo governo que se iniciaria em alguns meses, as profundas reformas estruturais que o Brasil precisava. Expectativa que ele teria frustrada em muito pouco… como se mostrou na entrevista de 1995.

Plutocratas, oligarcas e corporativos

Se preparando para voltar de Harvard em 1995, e concluindo sua pesquisa feita em parceria com o professor Roberto Mangabeira Unger, Ciro volta ao Roda Viva dando ênfase as suas reflexões sobre o Brasil, sintetizadas então no livro O próximo passo: uma alternativa prática ao neoliberalismo. Nesta obra, se propôs a pensar as causas políticas da hiperinflação no país que, não eram acidentais ou questão puramente econômica, mas uma escolha política orientada por interesses precisos e poderosos:
“Os três grandes interesses que sustentaram a inflação em alta a partir do próprio Estado brasileiro são: plutocratas, oligarcas e corporativos. O que quer dizer? Plutocratas são todos aqueles que seivam na especulação e vivem o privilégio de não sofrer da inflação porque manipulam moedas indexadas. O grande capital permanece indexado, na prática, por essas grandes taxas de juros impostas pelo próprio governo.”
Algum tempo depois, Ciro desdobraria esse entendimento na compreensão do novo jogo lucrativo que substituiu a hiperinflação no interesse da plutocracia: a especulação financeira a juros exorbitantes.
Foi com essa questão que o candidato a presidência da república pela segunda vez, se apresentou no Roda Viva em 2002.

Neo-liberais e entreguistas

Em 2002, assim como este ano, Ciro participava de um Roda Viva Presidenciáveis, com um projeto de governo que claramente se desdobrava de suas reflexões anteriores mas incorporava uma crítica ainda mais contundente aos severos efeitos sobre a população da política neo-liberal que havia sido conduzida nos últimos 8 anos e resultado em diversas crises. Ao responder ao âncora, Carlos Alberto Sardenberg, sobre em qual espectro político se baseava sua candidatura, Ciro afirmou:
“A nossa proposta é de centro-esquerda, mas nós queremos traduzir essa proposta além dos adjetivos superficiais. Traduzindo isso numa proposta concreta: um modelo de Estado e de relação do Estado com a economia que, de um lado, aceitando a iniciativa privada, construa um modelo de Estado que equilibre as oportunidades.” Complementando que seu principal adversário, representado então pelo candidato governista, eram “aqueles que representam o ideário neo-liberal, que produziu milhões de miseráveis, aqueles que representam o mundo dos negócios internacionais e a patifaria que se sucedeu ao processo de privatização no Brasil.”

Chega de conversa fiada

Após as eleições, convidado pelo presidente Lula para o Ministério da Integração Nacional, no qual permaneceu de 2003 a 2006, Ciro foi novamente convidado para o Roda Viva em 2005, que discutia a implementação do projeto de transposição do Rio São Francisco. Com todos os dados e a topografia brasileira na ponta da língua, no estilo Ciro Gomes, o ministro defendeu de forma aguerrida o projeto que dirigia e a necessidade de finalmente derrotar o drama da seca que afetava diretamente 12 milhões de pessoas: “chega de conversa fiada sobre esse assunto, nós vamos resolver!”
Em 2018, depois de mais voltas dessa roda, a gravidade de vários desses problemas só se acentuou, aprofundado pelo drama de um governo ilegítimo e Ciro vai ter novamente a oportunidade de expor, dizendo o que pensa e sendo quem é, um projeto de país ainda mais amadurecido.
Roda Viva – Tv Cultura
28/05/2018 às 22h15
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