Por Michel Francisco da Silva
Legal, mas o que isso significa?
Ciro frequentemente critica um grupo de pessoas em suas entrevistas. Ele os chama de rentistas. Contemos uma estória para ilustrar quem são eles e porque prejudicam nossa nação quando ultrapassam certos limites.
Imagine que você liga sua TV e vê um indivíduo te prometendo dobrar seu salário investindo na Bolsa de Valores. Imagine agora que por um milagre isso funcione tal como prometido e você ganhe muito dinheiro. Você se anima, conta para seus familiares, vizinhos e amigos. Vários deles aderem à ideia. Em seguida cada um deles também espalha a notícia. Pela força da propaganda, de repente, temos milhões de pessoas ganhando rios de dinheiro sem trabalhar. Maravilha, encontramos a solução. Todo mundo está rico. Certo?!?
NÃO!!! Para que você tome aquele vinho de primeira, aquela cerveja puro malte, alguém tem que ir ao campo plantar e colher, alguém tem que providenciar a industrialização, alguém tem que cuidar do transporte e da organização das vendas. Para que você compre aquele celular de última geração, alguém tem que providenciar a produção dos componentes elétricos, das telas. E assim é para cada bem ou serviço (riqueza real) que você, como novo investidor de sucesso, deseje adquirir.
Enfim, rentista é aquele que vive de renda. O que, grosso modo, significa que esse sujeito não produz nada diretamente.
Bela estorinha, e daí?
O exemplo pode parecer bobo, mas foi algo muito parecido com isso que causou a crise econômica de 2008. Uma empresa não bancária (portanto, sem proteção legal) teve a “excelente ideia” de vender papeis (títulos) que representavam participação em fundos para angariar recursos para empréstimos a pessoas sem capacidade de consegui-los no mercado de crédito tradicional. Os donos desses títulos seriam remunerados de acordo com os retornos. Em um primeiro momento foi um sucesso. Várias pessoas investiram. Aí logo veio a lição inevitável. Todo mundo correu para tentar sacar seu dinheiro e boom!!!
Isso deveria ter sido suficiente para ensinar ao mundo todo que quem produz riqueza de fato é o mercado de bens e serviços. O mercado financeiro só faz sentido enquanto financiador da atividade produtiva.
“Tem que recuperar a confiança do mercado, se não o mundo acaba.”
Bem, 2008 não ensinou a lição a muita gente. Enfim estamos nós aqui outra vez. Cada conversinha mole que você ouviu desde 2016 sobre Reforma Trabalhista, Teto de Gastos Públicos, Reforma da Previdência, Privatizações, Autonomia do Banco Central, Reforma Administrativa, entre outras, tem o mesmo intuito: Dar a meia dúzia de cidadãos que não produzem absolutamente nada a certeza de que o governo está comprometido em continuar a servir a seus interesses. Esse é o conto da “confiança do mercado”, contudo esse mercado (financeiro) é justamente aquele que trava o país.
Dentre os papeis negociados nesse mercado estão os chamados títulos da dívida pública. Esse tem sido um mecanismo perverso de transferência de renda de praticamente todo o país para as mãos desses poucos indivíduos que já são extremamente ricos. É justamente a promessa insana de honrar esse compromisso de Robin Hood às avessas que está atrelada a ideia de ganhar a confiança do mercado.
Complexos Industriais – a solução
No que dissemos até aqui está implícito o conceito de Custo de Oportunidade.
Basicamente, se o mercado financeiro está muito atrativo, isso aumenta as chances de que aqueles que têm dinheiro para investir mantenham seu capital “parado” rendendo juros ao invés de procurar montar um negócio que gere empregos e produza riquezas de verdade.
Assim, ao contrário do que diz o conto da carochinha que estão tentando emplacar, essa estorinha de reduzir o estado a qualquer custo combinada com controle da inflação a base de juros tem tudo para aumentar o número de desempregados.
Não é por acaso que todas as nações desenvolvidas são altamente industrializadas. Guardadas as devidas proporções, um país funciona como a casa de uma família. Para sustentar determinado padrão de vida, uma família precisa ganhar mais dinheiro do que pretende gastar. Substitua o eventual rombo no cheque especial da família pelo que chamamos de déficit em transações correntes para uma nação. Em outras palavras, surge o déficit em transações correntes quando um país consumiu mais bens e serviços de outros países do que os vendeu a eles, grosso modo. Importou, em valores, mais do que exportou.
Esse é o verdadeiro gargalo. Enquanto ele não for resolvido podem reduzir o estado a zero que o país não crescerá de maneira sustentada por muito tempo. Essa é razão pelo qual a proposta de Ciro Gomes de criar complexos industriais que produzam bens com alto valor agregado é o caminho para romper os ciclos de expansão no consumo seguidos de crises que experimentamos nas últimas décadas.
Somente a industrialização de conteúdo genuinamente nacional pode nos colocar de volta no jogo e fazer do Brasil um país desenvolvido e soberano de fato.