Em recente entrevista concedida à Folha de São Paulo e ao UOL, perguntou-se a Ciro Gomes sua opinião sobre diversos tópicos, entre os quais estavam sua posição sobre os políticos e partidos participantes do segundo turno das eleições presidenciais de 2018.
Ciro Gomes teceu pesadas críticas a figuras como o ex-juiz federal e agora ministro Sérgio Moro, bem como consistentes críticas à burocracia petista e à ideologia e às práticas que orientam o Governo de Jair Bolsonaro.
Também foi alvo de comentários por parte do pedetista o apresentador de TV Luciano Huck.
Apesar das críticas, Ciro reconheceu acertos de governadores petistas e um possível “acerto” do governo federal.
Acertos do PT: Rui e Camilo
Na Bahia, o governador Rui Costa fora reconduzido ao cargo com 75% dos votos válidos.
Com 79%, o Ceará reconduziu o petista Camilo Santana ao cargo de governador.
As expressivas votações recebidas por ambos os políticos são objeto de elogio da parte de Ciro durante a entrevista concedida.
Ambos, diferente de Fernando Haddad na cidade em que governou, tiveram suas administrações amplamente apoiadas.
Ambos os governadores foram alvos de críticas da burocracia petista, melhor representada por figuras como Gleisi Hoffman e Paulo Pimenta, por sugerirem que o PT precisa ampliar o discurso e não se isolar em torno da pauta “Lula Livre”.
Rui Costa concedeu entrevista à Veja há alguns meses na qual abordou o tema.
Santana, por sua vez, vem sugerindo desde, pelo menos, 2018, que o PT precisa passar por um processo de autocrítica.
Paira sobre o partido o questionamento sobre por que não se aproveitam tais forças políticas renovadoras e de populares bases, preferindo-se lançar um candidato derrotado na própria cidade – tanto por João Dória quanto por Jair Bolsonaro.
Erros do PT: de Pelé a Dilma
Preso de forma absolutamente questionável e em desarmonia com as leis nacionais, o ex-presidente Lula se transformou, perante parcela importante da sociedade brasileira, num “poderoso político preso”.
Perante outra parcela, esta menor que a primeira, transformou-se em “preso político poderoso”. Uma de várias questões postas era até que ponto iria seu suposto poder.
O petista pagou para ver. Ainda em julho de 2017, apostava que Bolsonaro não se viabilizaria como alternativa da direita, numa entrevista concedida a José Trajano.
Dizia o político preso acreditar que a população jamais votaria em Jair, uma vez que ele representava uma força muito retrógrada.
Apostava, pelo menos em março de 2018 em entrevista concedida à Folha de São Paulo, que “ninguém se elegeria sem o PT pela esquerda, nem sem o PSDB pela direita”.
Lula errou de forma absolutamente rude em se tratando desse assunto. O atual presidente da República foi eleito sem o apoio do PSDB.
Conforme o primeiro turno das eleições de 2018 se aproximava, Lula e o PT decidiram por uma estratégia: eleger a maior bancada de deputados federais.
O candidato do PT, Fernando Haddad, dizia ainda que um “2° turno entre PSDB e PT depende de Alckmin”.
Apostava-se, devido à maior parte do tempo de TV destinada às campanhas eleitorais estar com o PSDB, que o ex-governador paulista seria transformado em uma das principais alternativas em 2018.
Mais um equívoco, da parte de todos os participantes e analistas. Bolsonaro já se tratava de um fenômeno negligenciado, porém de grandíssimo alcance nas redes.
Perante uma esmagadora rejeição a Lula e ao PT, confirmada em pesquisas eleitorais feitas desde, pelo menos, março de 2018, o partido e seu maior líder decidiram apostar no “tudo ou nada”.
Basta que nos lembremos da campanha presidencial no primeiro turno, que pregava o “voto no 13” como mote principal.
O outro lado de tal estratégia contava com a possível derrota para o outro candidato no segundo turno, que poderia ter sido Alckmin se as interpretações petistas se consolidassem.
É natural que consideremos esse um grande erro da parte de Lula, que é reflexo de interpretações equivocadas.
Erro de prever a ida de Alckmin ao segundo turno, ou erro de aceitar a derrota como alternativa para a sobrevivência do PT.
Agora, se considerarmos um “acerto” a opção por eleger a maior bancada diante da possibilidade de se eleger o pior candidato que já se apresentou perante a nação brasileira, Jair Bolsonaro, torna-se extremamente questionável a percepção que Lula e o PT têm da nação e da população que aqui reside.
Apesar disso, alguém que se considera o “Pelé” da esquerda provavelmente trata a maioria de suas ações como méritos.
É preciso apontar ainda que o Brasil entra em recessão diante da administração de Dilma Rousseff, e que Michel Temer, fiador da desumana Reforma Trabalhista e do impraticável Teto de Gastos, é uma consequência direta das articulações políticas preferidas pelo PT.
Tudo isso é perfeitamente racional e nada passional. É onde está concentrada a crítica de Ciro Gomes àqueles que dão as cartas no Partido dos Trabalhadores.
Tais críticas encontram ainda coerência quando percebemos que a experiência regressa do candidato à presidência da burocracia do PT fora perder, em primeiro turno, as eleições municipais de São Paulo para João Dória, do PSDB.
Finalmente, não se pode ignorar que Dilma Rousseff foi incapaz de conquistar um terço de uma Câmara Federal que estava abertamente à venda.
Certa feita, o ex-senador pedetista Darcy Ribeiro teria dito: “não há crime maior que perder o poder”. A frase é apropriada.
“Acerto” de Bolsonaro: queda nos homicídios
Apesar de ser uma tendência desde 2018, sob o governo de Michel Temer, registra-se atualmente uma expressiva queda no número de homicídios registrados.
Devemos ser justos: se os homicídios disparassem, atribuiria-se ao Governo tal responsabilidade. Assim sendo, devemos celebrar a queda de tal índice.
Ainda que a tendência seja a de que o Brasil registre em torno de 45.000 homicídios, o que ainda é uma vergonha e um disparate para um país rico como o nosso, é preciso lembrar que no passado recente registramos mais de 60.000 homicídios.
Outro acerto, ainda relacionado à mencionada queda, é a transferência de “cabeças” do tráfico para presídios federais, cortando a comunicação entre mandantes de crime presos e executores dos crimes.
Erros de Bolsonaro: absolutamente todo o resto
É possível admitir que no campo da segurança modestos avanços foram feitos. Apesar disso, o Governo mantém posições vassalas e que comprometem a sorte do Brasil.
As mais graves dizem respeito ao acirramento das desigualdades sociais e econômicas e à soberania nacional.
Em se tratando de soberania nacional, há inúmeras situações que podem ser mencionadas. Na entrevista aqui abordada, Ciro menciona um general brasileiro assumindo posto no comando Sul dos EUA. “Por que os EUA precisam de um exército monitorando o sul?”, perguntaria-se o mais atento observador.
Menciona-se também a entrega da base de Alcântara a interesses estrangeiros. Trata-se de um espaço territorial de autonomia brasileiro que ficará sob os cuidados dos norteamericanos, impondo-se inclusive limites ao acesso de brasileiros na região.
Ainda em matéria de defesa e soberania, o acordo entre Embraer e Boeing. A partir de tal acordo, exportam-se para o estrangeiro, a troco de nada: empregos, que irão aos trabalhadores dos EUA; inteligência, capaz de produzir máquinas como o caça Gripen; rendimentos nacionais, uma vez que incontáveis acordos que poderiam ser firmados entre o Brasil e outras nações devem ficar sob os cuidados da Boeing, norteamericana.
Citemos, ainda, para decepção generalizada de qualquer brasileiro preocupado com o futuro do país, uma vez que se ameaçam, mais uma vez, empregos nacionais, a medida de Bolsonaro que amplia a importação de Etanol.
Ainda em matéria de comércio exterior, é preciso mencionar os prejuízos que a nova relação com os EUA e Israel trazem para o Brasil: R$ 3,5 bilhões negativos na balança comercial.
De tal modo, mantém-se o Brasil refém de uma matriz que exporta produtos primários e importa produtos manufaturados.
Esse modelo é insustentável e praticado desde os anos 1990, tendo seus impactos atenuados quando as commodities brasileiras estiveram artificialmente valorizadas nos anos 2000.
Tragicamente, no âmbito das desigualdades sociais e econômicas, devemos lembrar também do regressivo sistema tributário que assombra o Brasil, mesmo diante de 13 anos de governos tidos como “de esquerda”.
Só em São Paulo, em 2019 se arrecadou mais de 11 bilhões de reais em IPVA. Tal imposto atinge esmagadoramente a classe média, à medida que não há IPVA sobre helicópteros, lanchas e jatinhos.
Outro dado importante é que a classe média gera grandes rendimentos para o Estado com o IPTU cobrado, enquanto impostos sobre propriedades rurais geram até míseros 1 bilhão de reais.
O governo Bolsonaro vai na contramão de resolver tais problemas, enquanto agrava outros.
Aí está um problema de ideologia, uma vez que Paulo Guedes, o Ministro da Economia, é um liberal formado por Chicago que não entende o Brasil.
A lista é mais extensa que a que está aqui exposta.
Ainda assim, já se percebem questões absolutamente graves para o país e que precisam de um olhar atencioso, cuidadoso e, naturalmente, ambicioso: é preciso transformar o Brasil radicalmente.
A reprodução da entrevista de Ciro em blogs associados ao PT
A entrevista, como boa parte das afirmações recentes de Ciro Gomes, fora parcialmente reproduzida em espaços virtuais petistas.
Tais blogs trataram de recortar denúncias e críticas mais contundentes a jornalistas dedicados a eles.
Como a absoluta usina de intrigas em que estão transformados determinados sites, incentivam-se picuinhas e dissidências como se elas fossem fruto de preferência pessoal ou implicância.
Expusemos, ao longo desta publicação, a consistência e objetividade das verdadeiras críticas importantes apresentadas na entrevista.
Buscamos sustentar os argumentos encontrando eco em registros do do presente e do passado recente, vinculando a certas passagens do texto publicações antigas ou atuais que reafirmem o que escrevemos.
A entrevista de Ciro
Abaixo, você pode assistir à íntegra da entrevista de Ciro que norteia os dados expostos nesta publicação.
https://www.youtube.com/watch?v=NU4a7Gn_BWc