Por Rodrigo Ruperto
A diplomacia e as relações internacionais são uma poderosa ferramenta a serviço de um projeto nacional de desenvolvimento. Isso foi verdade em todas as civilizações exitosas no mundo, e não deveria ser diferente à realidade brasileira. E Ciro Gomes tem plena ciência disso. Em seu livro Projeto Nacional: O Dever da Esperança, lança luz sobre a necessidade de oferecer à nação uma política de defesa para que o país seja capaz de dissuadir as pressões externas e afirmando sua soberania, construir um caminho para o desenvolvimento nacional.
Assim, faz-se necessário a formulação de uma política exterior que materialize a capacidade do Brasil dizer “não”. Portanto, a política exterior que Ciro Gomes defende deve evitar dois desvios comuns. O primeiro diz respeito à ideia de se fazer um terceiro mundismo extremo, barulhento, e eloquente, para mascarar as rendições internas aos ditames neoliberais. O segundo diz respeito entender a política externa simplesmente como uma ferramenta para vender nossos produtos e serviços ao exterior. A política exterior não serve para isso. Ela é uma política de Estado gêmea da política da defesa, a fim de nos ajudar a abrir caminho no mundo para o nosso projeto interno. Logo, torna-se imprecindível a existência de um projeto interno concebido de maneira não sectária, apto a trancender a política partidária e suas divisões ideológicas que, sustentado por uma ampla maioria, seja capaz de sobreveviver a eventuais governos. Este é o Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Essa ideia, porém, não é uma mera intenção utópica apartada da experiência. Ciro Gomes, enquanto Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, foi responsável por assinar o Tratado de Ouro Preto, o tratado que institui o MERCOSUL. Segundo Ciro, em entrevistas, a assinatura do Tratado de Ouro Preto se deu no contexto em que os Estados Unidos estavam pressionando o Brasil a entrar na Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Ideia proposta apresentada pelo presidente George H.W. Bush, durante a Cúpula de Miami, em 1994, tinha como objetivo eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos, com exceção a Cuba. Tal proposta seria desastrosa para economia brasileira, que não teria condições de competir em igualdade com a potentosa economia norte-americana. Após uma conversa com Bill Clinton e Fernando Henrique – como presidente já eleito -, quando a proposta foi apresentada ao país, o presidente Itamar Franco deu a Ciro Gomes a responsabilidade de criar um bloco entre os países que ainda não tinham sido seduzidos pelos americanos. Neste caso, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai a fim de que, juntos, pudessem resistir à pressão do estado unidense. Ciro Gomes passou a negociar com os três paises do Conesul aquilo que viria a ser o MERCOSUL.
Portanto, para se entender que política exterior que convém ao Brasil deve-se, antes, entender os desígnos de um projeto interno para que esse projeto possa guiar a atuação da diplomacia e da inserção na nação no concerto internacional. Ciro, além de sua experiência como deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, Ministro da Fazenda, Ministro da Integração Nacional e deputado federal, possui experiência em pensar as relações internacionais e a inserção do Brasil no contexto global. Afinal a sua eleição para deputado estadual, eleito em 1983, tinha como uma das pautas pensar nas relações internacionais. Segundo Ciro, não há como pensar em um projeto nacional sem entender o papel do país no mundo e o inverso também é verdade.