Foram-se os tempos das grosseiras manipulações em debates eleitorais como o famoso episódio ocorrido na Rede Globo no 2º turno da eleição presidencial de 1989. Entretanto, as táticas para monopólio ou silenciamento de tempo de fala de um ou outro candidato são ainda largamente utilizadas.
No último dia 9, no primeiro debate presidencial para a televisão da eleição de 2018, foi possível notar, conferindo o tempo de fala de cada candidato, a grande discrepância entre Geraldo Alckmin e os outros.
O formato do debate consistiu em blocos alternados entre livres perguntas entre os candidatos e outro em que jornalistas dois deles para responder e comentar. Alckmin, que contava com outras candidaturas que lhe servem de sparring *, foi o candidato mais perguntado. No tempo total de fala, Alckmin teve 24’26, seguido de longe por Bolsonaro, o segundo com mais tempo de participação, com 17’23 e mais distante ainda de Ciro Gomes, com 16’22. Conforme o gráfico abaixo:
Para considerarmos o silenciamento dos candidatos é preciso considerar outros fatores, como a disposição dos blocos, sendo que o primeiro, por ter maior audiência, visto que os debates começam tarde, é o mais precioso. No primeiro bloco, Ciro teve seu tempo de exposição restrito a sua única pergunta de direito, enquanto Alckmin teve, além da sua questão, a participação em mais quatro outras. Ajudado, portanto, não apenas pelo formato do debate, como pelas candidaturas que o orbitam.
Quando olhamos o gráfico apenas deste primeiro e estratégico bloco, percebemos com mais clareza essa distorção:
A primeira pergunta para o candidato foi feita mais de 1 hora depois de sua participação no primeiro bloco. A tentativa de isolar Ciro Gomes não passou despercebida pela audiência, que passou a questionar qual seria a razão para o não questionamento de Ciro, um dos candidatos mais bem colocado nas pesquisas e com um projeto sólido a ser debatido. No Twitter, rede social mais dinâmica como segunda tela, foi um ponto constantemente levantado, como o bem humorado twitte de Joanna Maranhão que ilustra esse artigo.
A importância está no alcance que a televisão dá a maioria da população ao debate político e o nosso papel está em cobrar um formato mais democrático para todo o processo. Nesta sexta-feira, dia 17, o segundo debate será na RedeTv e quem estiver nas redes sociais pode ajudar a evidenciar, caso ocorra, essas distorções e peça #PergunteAoCiro!
*No boxe, o sparring designa a pessoa que auxilia no preparo do lutador através da simulação do confronto.