Entre os meses de janeiro e março de 2021, o desemprego no Brasil atingiu a maior marca já registrada na série histórica realizada pelo IBGE desde 2012, chegando a 14,7% da força de trabalho no Brasil, percentual que equivale a 14,8 milhões brasileiros em idade ativa.
Os dados foram aferidos pela PNAD contínua divulgada na última quinta-feira (27), e representam um cenário negativo ainda não suficientemente discutido por muitas lideranças políticas, em meio a uma carga de problemas e tragédias que já pesa sobre o país nesse momento.
Em comparação ao final do ano anterior, houve um aumento de 6,3% no número de desempregados, o que representa mais de 880 mil pessoas somadas a esse contigente. O agravamento do problema se expressa também pela comparação com o mesmo período do ano anterior, tendo em vista que chega a 1.956 milhão o número de pessoas que adentraram as estatísticas desde o primeiro trimestre de 2020 até aqui, segundo o IBGE.
O panorama atual intensifica o temor de que o desemprego em massa se instale como problema sistêmico, comprometendo as gerações futuras no Brasil.
Grupos específicos já têm vivido de modo mais alarmante esse contexto negativo. Segundo os resultados da PNAD, entre os jovens de 18 a 24 anos a taxa de desemprego atingiu 31%, sendo muito mais alta do que a média nacional (14,7%). Entre as mulheres, a marca chega a 17,9%, cenário mais grave quando comparado ao recorte considerando apenas os homens (12,2%).
Entretanto, é preciso explicitar que as resoluções políticas reais para essa ameaça dependem de uma compreensão integrada, primeiramente, das causas do desemprego brasileiro ao longo do tempo e das últimas décadas e, em segundo lugar, uma compreensão da dinâmica do mundo do trabalho atual e das mudanças que se avizinham quanto a isso.
Causas globais e locais que agravam o desemprego no Brasil têm sido denunciadas e debatidas há diversos anos por Ciro Gomes, o que faz ser necessário relembrar os pontos principais citados pelo ex-governador quanto ao tema. Recentemente, um vídeo divulgado pelo ex-governador cearense interpelava diretamente os brasileiros a mudarem esse cenário.
Ainda em 2018, a Geração de Empregos foi justamente o primeiro tema elencado pelo então presidenciável em seus “12 passos para mudar o país”.
Três fenômenos alarmantes do contexto brasileiro, que representam causas profundas da atual crise desemprego no país, são frequentemente denunciados por Ciro.
Desindustrialização e desemprego
O primeiro deles é a desindustrialização. Cabe lembrar que o setor industrial já respondeu por 36% do PIB brasileiro, em 1985, mas vem sofrendo com a desnacionalização e o desmanche de empresas no Brasil nas últimas décadas. Segundo o IBGE, em 2020, a indústria teve a queda mais intensa em 5 anos, diminuindo em 3,5% sua participação no PIB brasileiro em relação ao ano anterior.
A recuperação industrial é ponto essencial não apenas para a existência de mais vagas de empregos, mas também para uma melhora na massa salarial dos brasileiros, haja vista que esse setor é um dos grandes responsáveis por empregos formais e por salários mais rentáveis à população.
O restabelecimento e a criação de empresas e empregos industriais no Brasil atenderia, além disso, a muitos ajustes que são necessários à economia do país. Isso porque uma nação exclusivamente agro exportadora, como o Brasil tem se tornado, agrega pouco valor final às commodities que produz, o que tornaria insustentável o balanço de pagamentos brasileiro – para mencionar brevemente apenas um dos problemas apontados por Ciro Gomes quanto a isso.
Recentemente, Ciro voltou a tentar emplacar essa discussão entre os políticos brasileiros, alertando para o quanto a desindustrialização afeta a renda dos brasileiros e a dependência do Brasil:
Alienação do Brasil perante uma Economia do Conhecimento
Um segundo panorama sombrio associado ao desemprego e cuja superação tem sido estudada por Ciro Gomes é a alienação atual do Brasil perante uma Economia do Conhecimento.
Cabe lembrar, quanto a isso, que o cenário de empregos do Brasil hoje em dia é permeado por empregos que requerem uma baixa especialização e pela presença de um imenso contingente de pessoas em trabalhos precarizados ligados, por exemplo, ao plataformismo e à uberização. Em 2019, aplicativos como Uber e IFood se tornaram juntos o “maior empregador” do Brasil, de acordo com dados do Instituto Locomotiva, embora as condições desses trabalhos se afastem fortemente do cenário que desejamos estabelecer no Brasil.
Contudo, a empregabilidade brasileira não pode ficar restrita ou refém de condições de trabalho como essa, segundo a visão de Ciro Gomes. Sob essa perspectiva, tendo o desenvolvimento econômico e o social como objetivos, o Brasil poderia contemplar uma Economia do Conhecimento, na qual empregos relacionados a campos especializados do saber e a setores tecnológicos seriam intensamente mais presentes.
A inclusão da juventude brasileira em carreiras profissionais como essas é ponto de destaque para Ciro. Um de seus vídeos recentes se dirigiu aos jovens pobres das periferias do país indicando a possibilidade de que façam parte de uma “Revolução das Garagens” à brasileira, ou seja, formando uma força de trabalho com conhecimentos especializados e ligada à inovação de tecnologias e de serviços, por exemplo.
Modelo econômico nocivo e suas crises sucessivas
Um terceiro flagelo brasileiro que representa uma causa profunda do desemprego recorde atual está no modelo econômico adotado pelos governantes da história recente do Brasil e nas sucessivas crises que essas escolhas têm causado.
Esse tema tem sido debatido por Ciro Gomes ao longo de toda sua trajetória política. Segundo ele, os graves problemas sociais que vivemos hoje são causados por um mesmo modelo econômico, que começou no governo FHC, passou por Lula, por Dilma e chegou ao ápice no governo de Bolsonaro.
O modelo criticado por Ciro pode ser entendido, de modo geral, pelo conjunto de privilégios políticos e econômicos que foram dados à financeirização, aos bancos, ao crescimento com base na atração apenas de investimentos estrangeiros e em privatizações, por exemplo.
É importante entender que esse conjunto de decisões fez com que a simples alocação de investimentos (feita por aqueles que já detém excedentes ou pelos que figuram entre os mais ricos) fosse remunerada em altos juros, de tal modo que esses ganhos passaram a ser mais vantajosos do que investir e apostar na produção e no trabalho concreto das pessoas (feito em indústrias, em serviços, no comércio etc.).
Quando esse panorama irreal se consolidou, abrir novas empresas e criar empregos, do ponto de vista de um possível empreendedor ou investidor, passou a significar lidar com prováveis prejuízos, dadas as facilidades concedidas pelo governo ao rentismo e dadas as deficiências econômicas brasileiras (logística, atraso tecnológico etc.) que continuaram sem resposta dos governantes.
Nas palavras de Ciro, “não é por acaso que este foi o período em que o Brasil cresceu menos na sua história, teve o maior desemprego e está vendo sua indústria ser destruída. Portanto, não adianta simplesmente trocar Zé por Chico ou Zélia por Maria. É preciso alguém que mude esse modelo.”
Ciro Gomes detém uma visão integrada do problema e prioriza a geração de empregos
Pode-se dizer que foram somadas às três causas brevemente apresentadas acima ainda dois contextos agravantes: a Reforma Trabalhista, aprovada durante o governo Michel Temer, e a pandemia causada pelo Sars-Cov-2, negligenciada e mal-gerida pelo governo Bolsonaro.
Ainda em 2018, Ciro Gomes foi o único candidato a presidente que mencionava a necessidade de rever ou desfazer a insegurança jurídica e a selvageria trazidas por certos pontos da Reforma Trabalhista. Efeitos denunciados e combatidos por ele à época eclodem agora como graves problemas que impactam o mercado de trabalho, como a pejotização dos contratados (o que ocasiona uma fuga em massa dos contribuintes da previdência pública) e a informalidade.
Segundo a PNAD recente, a informalidade atinge agora 39,6% da força de trabalho brasileira. O número corresponde a cerca de 34 milhões de pessoas trabalhando sem direitos básicos como jornada semanal prevista, salário fixo, férias, recolhimento previdenciário e décimo terceiro salário.
Retomar o fio condutor que liga os problemas recentes a algumas de suas causas profundas, tal como feito por Ciro Gomes, é essencial para destacar que o desemprego recorde no Brasil é impossível de ser desfeito sem uma nova coordenação entre Estado, mercado, academia e um intenso investimento em gente, isto é, em trabalhadores qualificados que possam acompanhar as mudanças iminentes.
Não à toa, foram mencionadas aqui algumas das ideias debatidas por Ciro em um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que se referem a mudanças significativas no país. Uma vez implantadas, as mudanças do modelo econômico, o investimento em uma Economia do Conhecimento e a reindustrialização das empresas no Brasil formariam a base para reverter a ameaça do desemprego sistêmico em massa, pois estabeleceriam um mercado interno mais punjante e mais protegido das viradas que ocorrerão no mundo do trabalho nos próximos anos.