Após Ciro Gomes denunciar a negociata envolvendo o Banco do Brasil (BB) e o BTG Pactual, banco fundado pelo ministro da economia, Paulo Guedes, criador e criatura não saíram mais de pauta e tornaram-se protagonistas contumazes do debate público. Neste texto vamos ajudar você a entender a repercussão do caso e demonstrar como Ciro influenciou as manchetes que movimentaram as redes nos últimos meses.
Vem com a gente, Turma Boa.
A Denúncia: “Estão roubando de braçada”
Em entrevista ao ator Gustavo Mendes, em 21 de julho, Ciro expôs a negociata por meio da qual o Banco do Brasil (BB) teria entregue uma carteira de títulos avaliada em cerca de R$ 3 bilhões (com B de bola) por apenas R$ 371 milhões (com M de Maria) ao BTG Pactual. “Sabe quantas vezes na história o Banco do Brasil fez isso? Nunca”, enfatizou Ciro durante a conversa.
Desdobramento 1: desembarque de membros da equipe econômica
No dia 24 de julho, três dias após a denúncia, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, encaminhou sua renúncia ao ministro da economia. Em entrevista à CNN Brasil, Novaes alegou não ter se adaptado “à cultura de privilégio, corrupção e compadrio de Brasília”.
Segundo a jornalista Hildegard Angel, entretanto, o repentino pedido de demissão foi motivado pelas revelações feitas por Ciro Gomes. Alguns veículos especularam que possíveis pressões à efetivação da transação BB-BTG e à manutenção de publicidade em canais investigados no caso das Fake News seriam os responsáveis pelo abrupto desembarque.
Vale lembrar que Novaes foi apenas uma das três baixas na equipe econômica. Em julho, em um período de 15 dias, Guedes recebeu três pedidos de exoneração. O desembarque, iniciado no dia 15 com o então Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, consolidou-se após o diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda do ministério da Economia, Caio Megale, anunciar seu desligamento, dois dias depois da saída de Rubem Novaes.
Desdobramento 2: TCU é provocado a averiguar a transação entre BB e BTG
Se o desembarque de três importantes nomes da equipe econômica pode ter dado dor de cabeça a Guedes no mês julho, outro desdobramento da denúncia promete estender o desconforto pelos próximos meses. Quatro dias após à entrevista concedida por Ciro, o subprocurador-geral do Ministério Público no Tribunal de Contas (TCU), Lucas Rocha Furtado, requereu a apuração de possíveis irregularidades no negócio.
Na representação encaminhada ao TCU, o subprocurador evidenciou a necessidade de averiguar os possíveis prejuízos causados ao BB e observar, em função da relação de Guedes com o BTG, se a transação não “atentou contra os princípios da finalidade e moralidade pública”.
Desdobramento 3: Justiça do RJ censura site e retira reportagens sobre BTG do ar
Como se a negociata e seus desdobramentos já não tivessem ocupado manchetes demais, na última sexta-feira (28), o juiz Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves, da 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro, determinou ao jornal GGN, editado pelo jornalista Luis Nassif, a retirada do ar de 11 matérias envolvendo o BTG Pactual. Entre elas, a reportagem centrada na denúncia feita por Ciro Gomes.
Em sua sentença, Chaves afirmou que a imprensa deve ser livre, mas não para “causar danos à imagem de quem quer que seja”. Ele alegou que o site “transbordou os limites da liberdade de expressão”.
Todavia, para Nassif, a ação do BTG contra o GGN visa escamotear um novo tipo de negócio pouco investigado pela mídia: a exploração de grandes bancos de dados por parte de instituições financeiras. “Esse tipo de negócio trouxe um valor enorme para bancos de dados públicos. Mas, a falta de cobertura sobre o tema, deixou um território sem nenhuma regulação”, escreveu o jornalista.
Desdobramento 4: Censura judicial gera reação contra BTG e solidariedade a jornalista
A ação judicial gerou forte reação entre acadêmicos, políticos, artistas, jornalistas e influenciadores. Até às 14h da última segunda-feira (31), mais de 45 mil mensagens sobre a censura judicial foram disparadas, colocando o BTG Pactual como o assunto mais comentado no Twitter. Em nota, o Instituto Vladimir Herzog ponderou que “questionar a imprensa ou discordar dela são atitudes legítimas, tentar silenciá-la com ataques é uma evidente e grave violação à Constituição e ao Estado democrático de Direito”.
Outra importante voz a se manifestar foi a do presidente Organização dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Em seu Twitter, Felipe salientou que “questionar a venda de créditos avaliados em 3 bilhões por 371 milhões é absolutamente legítimo, para não dizer obrigatório. Os brasileiros têm direito a uma explicação”.
Por fim, ampliando ainda mais a visibilidade do caso, o humorista da Globo, Marcelo Adnet, reforçou, na última terça-feira (1), a “pergunta simples” posta em pauta há meses por Ciro Gomes: #PauloGuedesPorQuê?