A moda na imprensa mundial são os “candidatos antissistema”. A economia estagnada há uma década, a desigualdade social crescente e a precarização das condições de vida levam cada dia mais a população mundial a descrer do sistema político tradicional.
Candidatos que conseguem convencer que estão à margem do sistema político são capazes de atrair votos daqueles eleitores que não participam mais do processo político. Sua característica essencial é apresentar alguma hostilidade do sistema político e partidário, da grande imprensa, do “mercado”, e da maioria da elite acadêmica e cultural. Os americanos têm um nome para isto: o “establishment”.
Eles podem aparecer em qualquer parte do espectro político. Donald Trump e Bernie Sanders passaram por isto nos EUA, Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon na França, Syriza na Grécia, Podemos na Espanha, Jeremy Corbyn no Reino Unido.Os casos de Donald Trump e Bernie Sanders são emblemáticos. Ambos foram boicotados por seus partidos, apesar de movimentarem multidões e renovarem a esperança dos indignados com a política. Ambos também contaram com comentários jocosos da maioria dos “especialistas”, acadêmicos e cientistas políticos.
A elite econômica e seus economistas de estimação diziam que seus programas econômicos, contrários a globalização, “quebrariam” os EUA. As bolsas caiam a cada triunfo dos candidatos. Juristas buscavam empecilhos legais para suas candidaturas. A imprensa boicotava a cobertura de suas campanhas.
O que explica essa hostilidade das elites políticas, econômicas e culturais? O que explica é o ator oculto a quem todos os outros estão hoje, de uma forma ou de outra, subordinados: o Sistema Financeiro Global. Ele é o verdadeiro ator hegemônico do mundo nos últimos 30 anos, construindo lenta e meticulosamente a Ordem Neoliberal Global, bloqueando no sistema político a discussão de tudo o que verdadeiramente o ameaça: fim de tratados de livre-comércio, tributação de rendimentos financeiros e renacionalização de indústrias.
Eles cooptaram os partidos políticos de direita e de esquerda via financiamentos eleitorais, sequestrando a democracia. Cooptaram a academia financiando as pesquisas de seu interesse e pagando palestras milionárias a políticos e acadêmicos. Cooptaram a mídia e a indústria cultural devido ao dinheiro de suas propagandas e ao financiamento de seus projetos.
Por meio das fusões, aquisições e aberturas de capital, todas as grandes corporações mundiais tiveram sua administração entregue ao sistema financeiro, grandes fundos e acionistas. CEOs contratados por boards de acionistas passaram a ter como única meta a produção de lucros de curto e médio prazo a todo custo, sem qualquer consideração primária com sua produção, funcionários ou pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias.
Nos EUA, o que determinou a vitória de Trump e a derrota de Sanders foram a maior democracia interna do Partido Republicano, a grande radicalidade das propostas do socialista Sanders e o bloqueio absoluto da imprensa que o último sofreu, o que foi driblado por Trump com suas declarações polêmicas. Mas Trump ainda é suficientemente desalinhado com o establishment para que viva sob ameaça permanente de impeachment e bloqueio do próprio partido a seu programa.
E no Brasil, qual seria a liderança que encarnaria a oposição ao sistema político, mais desmoralizado e odiado que nos EUA, mídia, academia e elite econômica? Qual seria a voz capaz de energizar as massas e renovar suas esperanças políticas?
Atualmente há mais de um líder político nesta posição. Jair Bolsonaro é um dos que preenche algumas dessas características, defendendo posições polêmicas sobre assuntos interditados< para a discussão pública. O personagem é vilanizado sempre que possível por jornalistas, acadêmicos e celebridades.
Economistas e jornalistas atacam sua ignorância econômica. Seus apoiadores são caricaturados como fascistas, estúpidos e ignorantes. Um jogador de futebol que afirmou simpatia com ele foi alvo de linchamento público. Bolsonaro sofre em alguma medida o que Trump sofreu nos EUA e, como ocorreu lá, isto apenas reforçou os laços de solidariedade entre seus apoiadores e ele.
Entretanto, a grande questão que Bolsonaro não responde é a econômica. Bolsonaro não possui como Trump um projeto de rejeição ao neoliberalismo capaz de seduzir parte da nação, ele apresenta mais da mesma desnacionalização e desindustrialização que já está massacrando os trabalhadores e empresários brasileiros. Se rendeu as instruções do “mercado”, entidade que de fato é um rótulo para o Sistema Financeiro Internacional.
O programa que ataca de forma mais decisiva e frontal a atuação deste ator oculto é o de Ciro Gomes. Isto que o caracteriza como a verdadeira voz antissistema. Ciro está disposto a tratar da tributação de grandes heranças e do capital financeiro, a reduzir o pagamento escorchante de juros do Estado brasileiro a agiotagem internacional e a manter um câmbio competitivo que permita que a indústria brasileira volte a competir internacionalmente.
Mais do que isso, Ciro quer fazer uma >reforma fiscal e tributária profundas, que possibilitem o investimento constante do Estado brasileiro em projetos de infraestrutura e programas estratégicos para o renascimento da indústria nacional. Com um sistema fiscal sólido, o país não estará mais a mercê das notas de investimento e níveis de confiança dos investidores internacionais, passará a financiar de forma constante seu desenvolvimento, assim como fazem as nações asiáticas.
É por isso que o programa de Ciro Gomes está sendo boicotada e silenciada como a de Sanders, e nisso estão também os “grandes partidos” brasileiros que, por vontade ou não, se adaptaram no capitalismo financeiro global e estão por perder suas posições de proeminência na disputa política. A experiência administrativa de Ciro, em contraste com a de Bolsonaro, só o torna mais ameaçador, pois significa que ele terá experiência e capacidade para viabilizar seu projeto após chegar ao poder.
É por isso que alguns acadêmicos empregados da grande mídia acusam as propostas de Ciro de populistas. É por isso que a imprensa só o noticia por manchetes que o caracterizem como destemperado ou desequilibrado. Isso apesar de seu nome já figurar como o segundo ou terceiro nas pesquisas sem Lula.
Os apoiadores de Ciro devem estar cientes e preparados para esta realidade caso queiram participar dessa batalha. Seu projeto é perigoso demais para que o establishment brasileiro deixe-o prosseguir de forma impune. Ciro seguirá sendo duramente boicotado, escondido, atacado por todas as frações do Poder.
Só a mobilização popular, a aliança entre trabalhadores, profissionais liberais e empresários pequenos e médios poderá levá-lo a presidência. E só esta coalizão permitirá que um possível governo seu implemente as transformações que o país precisa para seguir adiante em sua jornada como nação.