É preciso compreender o contexto que levou à união de Ciro Gomes e Kátia Abreu na disputa à presidência e à vice-presidência da República.
Na semana passada, às vésperas das convenções partidárias, tornaram-se claras as táticas eleitorais que buscam isolar Ciro. Participou ativamente dessa tática o PT, ao buscar um acordo que sequer resultava em uma coligação nacional para si, mas apenas em neutralizar a força que poderia ser adicionada a Ciro Gomes com a entrada do PSB na campanha do pedetista. O resultado disso levou a um PSB nacionalmente neutro e, ainda assim, estadualmente próximo de Ciro em diversas regiões. Sem coligação para a candidatura à presidência, o PSB jogou fora seu tempo televisivo, que poderia ser usado para expor sua posição e denunciar a gravidade da situação no país.
Teve também participação nesta tática eleitoral o PCdoB. Ao encaminhar Manuela como “vice reserva” de uma chapa puro-sangue petista, o partido recusou-se a elaborar uma nova resposta sobre a capacidade do campo progressista de se organizar em novas referências para o futuro. O que poderá oferecer aos jovens uma liderança que insiste em se colocar na esteira de forças já hegemônicas?
São esses os principais movimentos que compõem uma verdadeira “valsa à beira do abismo“, como mencionou Ciro Gomes. Uma valsa sem a leveza com que antes se buscava falar em “união do campo progressista”, com a boca cheia e os olhos marejados em lindos atos e hashtags. Foram agora movimentos pesados e bruscos que causaram revolta em grande parte da militância do PT, do PSB e do PCdoB.
Forçado à oposição entre lutar pelo futuro de Lula e da hegemonia petista ou lutar pelo futuro do Brasil, Ciro com certeza não retrocederia: seu compromisso é o povo brasileiro. E tendo vislumbrado de perto, durante o processo de impeachment, o caos que se aproxima para o próximo ciclo democrático, a necessidade de lutar para salvar o país desse momento trouxe Kátia Abreu para perto de Ciro. Com isso, a senadora coloca seu compromisso nacional à frente, por exemplo, de uma eleição como governadora do Tocantins.
Um dos sentidos mais potentes para apoiar a escolha de Kátia Abreu como vice na chapa de Ciro é a certeza de que sua conduta no cargo seria oposta à de Temer enquanto foi vice de Dilma. Kátia demonstrou honradez e fidelidade ao compromisso firmado com o governo como ministra, bastante diferente da capacidade desmedida de Temer de trair e subverter compromissos programáticos (características suas que, apesar de bem conhecidas, não impediram o Partido dos Trabalhadores de oferecer a ele o cargo). Há ainda outras qualidades da senadora tocantinense que seu passado é capaz de mostrar.
Ao lembrar os fatos que trouxeram Kátia Abreu à chapa trabalhista, percebemos que não há ônus para Ciro com essa escolha, ao contrário do que está dizendo parte da mídia, ainda em viagem lisérgica após a semana que passou. Ninguém dá o que não tem, e os partidos que compuseram a tática eleitoral para tentar isolá-lo não tinham como oferecer a Ciro neste momento um compromisso verdadeiro com o futuro do Brasil, com o destino do povo brasileiro em primeiro lugar.
Como lembrou Ciro, toda a tática eleitoral que infelizmente o teve como adversário preferencial esbarrará em um fator que muitos parecem esquecer: o povo e a decisão que vem dele. A política decidida em gabinetes jamais terá a coragem de quem batalha em campo aberto, como fazem Kátia Abreu e Ciro Gomes.