Ciro Gomes – ex-ministro, ex-governador e pré-candidato à presidência – esteve recentemente na Universidade de Montpellier (França, 26/03), em meios a outros eventos dos quais participou na Europa. Após sua fala, um participante da plateia o questionou sobre um assunto recorrente entre as perguntas desse tipo de evento: “se tem uma palavra, um problema, que é associado ultimamente não só ao Brasil mas a vários países da América Latina, inclusive o meu [Argentina], é a corrupção da classe política […] Como se resolve o problema?”
Em sua resposta, Ciro afirmou: “A corrupção é um flagelo, menos por aquilo que se diz que ela é, e mais pelo câncer que ela representa na destruição do laço de confiança entre a estrutura popular e a representação [política]. Portanto, é um câncer que ameaça o próprio tecido democrático”.
Uma ideia central foi defendida por Ciro Gomes em sua fala: “O que resolve a corrupção é exemplo, que vem de cima, e permanente inovação institucional. Mas, quer ir pro limite? Enquanto a humanidade legitimar indústria de armas, enquanto a humanidade legitimar paraíso fiscal, esqueça qualquer possibilidade de êxito real no combate à corrupção”.
Na sequência de seu raciocínio e falando da indústria de armas, Ciro mencionou o exemplo do grande volume de armamento que chega ao Brasil anualmente, como as metralhadoras AR15 usadas pelo crime organizado, mas fabricadas nos EUA, e questionou como seria possível pensar que as agências de segurança, como a americana NSA, por exemplo, desconheçam o destino dessas armas produzidas lá e que entram pelas fronteiras brasileiras. Para Ciro, casos como esse exemplificam que a corrupção e a violência não cessam porque há interesses fortíssimos associados em mantê-las.
O pré-candidato citou também exemplos de políticos brasileiros bastante conhecidos que hospedam seu dinheiro em contas estrangeiras de paraísos fiscais. A menção de Ciro sobre a relação disso com a corrupção se justifica, pois, apesar de não ser prática estritamente considerada ilegal, um político brasileiro hospedar dinheiro em contas estrangeiras pode indiciar uma estratégia para ocultar patrimônios e, pelas quantias altíssimas, faz a população imaginar que esse pode ser dinheiro gerado por corrupção.
Ciro lembrou ainda que rankings e estudos internacionais mostram que o Brasil não ocupa os piores postos em termos do volume de dinheiro desviado por corrupção, o que indica que não há singularidade brasileira em relação a isso, apesar do que tenta dizer a mídia. Nas palavras do próprio Ciro, “o chocante aí é como ela [a corrupção] se encastelou, e a crônica de impunidade”.
Ainda sobre a questão de o Brasil ser ou não mais marcado pela corrupção do que outros países, Ciro lembrou o próprio caso do ex-presidente francês, Nicholas Sarkozy, que tem sido investigado por irregularidades no financiamento de sua campanha em 2007: “Não diria, porque estou aqui e quero ser delicado, o que tem acontecido com o presidente Sarkozy que, eu espero, seja inocentado. Mas, na velha França parece que presidente também se envolve em coisas que precisam ser explicadas. Portanto, nada de achar que nossos países são piores que os outros, não”.
O primeiro mandato político assumido por Ciro Gomes teve início no ano de 1983 (quando se tornou deputado estadual eleito pelo estado do Ceará) e, nessas mais de três décadas de vida pública, jamais foi alvo de nenhum inquérito por corrupção. Muitos têm visto esse fato, frequentemente lembrado por Ciro como “nada mais do que uma obrigação”, como algo que o destaca como liderança política nos tempos brasileiros atuais e para as disputas que ocorrerão neste ano.
**A íntegra do evento na Universidade de Montpellier com a participação de Ciro Gomes pode ser vista clicando aqui.