Indo para a quarta disputa nacional de sua trajetória política, o ex-ministro Ciro Gomes ocupa hoje a terceira posição nas pesquisas de intenção de voto para 2022, além de ser considerado a segunda opção da maioria dos eleitores testados. Mas persiste um questionamento: Ciro Gomes tem chances de ser eleito presidente? Ou, em um passo ainda anterior, Ciro Gomes tem chances de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais?
Ciro Gomes tem chances? Considere o seguinte…
O pleito de 2022 conta com alguns aspectos inéditos que podem confundir ou induzir ao erro quando analisamos o cenário “fotográfico” que uma pesquisa é capaz de extrair do “filme”, aqui nesta metáfora representado pela vida comum.
O fator que mais chama a atenção diz respeito à particularidade de que pela primeira vez em nossa jovem democracia um ex-presidente e um presidente em exercício ocupam as primeiras posições nas pesquisas de intenção de voto. Melhor dizendo: é a primeira vez que duas pessoas que já sentaram na cadeira disputam o direito de presidir o país.
Conhecidos por 100% da população, Jair Bolsonaro é o atual presidente, com rejeição magnânima, e Lula da Silva é o ex-presidente melhor aprovado nos últimos 30 anos. Estes dois fatos isolados, soltos no ar, já chamam muita a atenção: duas pessoas conhecidas por 100% da população, em tese, têm pouca margem para crescer, estando muito sujeitos à conjuntura e ao contexto em que se apresentem.
Quando consideramos a história que levou cada um à posição em que estão hoje, percebemos que é necessário olhar para o quadro com ainda mais concretude, prestando atenção em ainda mais detalhes.
Bolsonaro não foi eleito por uma maioria de militantes que assinam embaixo de todas as ações do Presidente. Ele foi eleito como a “novidade”, a “mudança” que impediria a quinta vitória do PT, partido que se viciou no poder e foi tomado de uma rejeição tão forte que o pior candidato nas eleições de 2018 se viabilizou quase que exclusivamente por emular a antítese completa do petismo.
Isto nos dá algumas pistas a respeito de por quê certas forças da política eleitoral brasileira trabalham dia e noite contra a possibilidade de um terceiro nome ameaçar os primeiros colocados, um nome que ainda não foi abençoado com a chance de presidir o Brasil.
Este nome já existe. Nesta maratona que chamamos de eleições presidenciais, Ciro Gomes tem chances maiores de crescer do que seus rivais, sendo o que mais ameaça a manutenção do estabelecido, como apontado pelo cientista político e presidente científico do Ipespe, Antonio Lavareda em entrevista ao Metro1.
Isto porque Ciro é a segunda opção da esmagadora maioria dos eleitores, além de representar uma “novidade” – ao passo de que Bolsonaro seja o “presente” e Lula o “passado”, e o Brasil quer andar pra frente.
Ciro Gomes em 2018 x Ciro Gomes em 2022
Para fins comparativos, antes de ilustrar as estratégias que cada lado tomará diante do pleito, vamos refletir sobre onde estava Ciro neste exato momento no ano de 2018. Utilizaremos o cenário com Lula como principal.
Cenário 1 (Com Lula candidato) – Datafolha de Junho/2018
- Lula (PT): 30%
- Jair Bolsonaro (PSL): 17%
- Marina Silva (Rede): 10%
- Geraldo Alckmin (PSDB): 6%
- Ciro Gomes (PDT): 6%
Cenário 2 (Com Fernando Haddad no lugar de Lula)
- Jair Bolsonaro (PSL): 19%
- Marina Silva (Rede): 15%
- Ciro Gomes (PDT): 10%
- Geraldo Alckmin (PSDB): 7%
- Alvaro Dias (Podemos): 4%
- Fernando Haddad (PT): 1%
Hoje, Ciro conta com 8% num cenário em que Lula teria 47% e Bolsonaro 28%. Repare, primeiro, como o resultado final é completamente diferente daquele sondado em junho de 2018. Marina Silva terminou com 1% dos votos, Geraldo Alckmin com 4%, Ciro Gomes com 12%, Fernando Haddad com 29% e Jair Bolsonaro com 46%.
Com a tentativa da campanha do PT de antecipar o primeiro turno, é natural que Lula pareça maior nesta altura do campeonato do que realmente venha a ser na abertura das urnas. Isto porque se apresenta como única alternativa capaz de derrotar Jair Bolsonaro, atual presidente com rejeição alta, mas que não faz jus à rejeição que de fato mereceria em tempos normais.
O tempo há de mostrar a artificialidade com que se compõe essa adesão…
Pela rejeição dos polos, Ciro Gomes tem chances
Pelo menos dois caminhos a serem tomados por Jair Bolsonaro e Lula já estão claros sobre o processo eleitoral de 2022.
Primeiro, que ambos gostariam de enfrentar um ao outro para satisfazer suas estratégias. Lula prefere num primeiro turno antecipado. Bolsonaro em um espaço onde só exista a candidatura dele e a do petista. O que isso significa? Que, até o limite do possível, trabalharão pela implosão de qualquer terceiro nome viável que apareça.
Segundo, que ambos trabalharão, em harmonia com este primeiro aspecto, para aumentar a rejeição um do outro. Como bem apontou o ex-ministro Aldo Rebelo (PDT-SP) em várias ocasiões, a resultante de ambos trabalharem para aumentar a rejeição um do outro é que ambas as rejeições aumentarão.
Com uma estratégia baseada na premissa de que esta ou aquela candidatura tenha problemas, mas seja “menos pior” que a alternativa, a mediocridade que orientará as duas principais campanhas está posta e aumenta o espaço de manobra para um terceiro nome. Por isso, a necessidade urgente tanto da campanha de Lula quanto da campanha de Jair Bolsonaro para que não haja outro nome viável na disputa.
Passada esta etapa, caberá à candidatura pedetista provar o que as pesquisas já vêm indicando: Ciro Gomes tem chances de satisfazer a vontade de boa parte dos dois polos.
Ele é capaz de satisfazer a vontade de uma boa parte do eleitorado que hoje está com Lula da Silva, por ser capaz de derrotar Jair Bolsonaro…
E é capaz de satisfazer a vontade de boa parte do eleitorado que está com Jair Bolsonaro, sendo mais capaz do que o atual presidente na tarefa de derrotar Lula – Ciro tem diminuído sua diferença para Lula em eventual segundo turno, enquanto Bolsonaro perde por 25 pontos percentuais (na sondagem anterior, eram 20).
A pesquisa ilustrada acima demonstra algo que já é possível concluir com clareza: a população, se instada a tal pergunta, prefere Ciro Gomes a Jair Bolsonaro. Portanto, está posto que o primeiro obstáculo a ser superado é o próprio presidente, ainda no primeiro turno.
Embora Bolsonaro e Ciro tenham uma diferença parecida para Lula, Ciro conta com uma vantagem sobre o atual presidente: espaço para crescer, por não ser tão conhecido quanto o candidato do PL.
Em segundo turno protagonizado por Lula e Ciro, 16% dizem que votariam Nulo, Branco, Nenhum ou Não saberia em quem votar. É um espaço muito maior para manobras do que o disponível para o atual presidente.
A estratégia do PT é a de antecipar o primeiro turno para o momento atual, e chegar ao primeiro turno em clima de segundo, atropelando as alternativas. Soa como uma tarefa bastante difícil diante de uma candidatura capaz de aglutinar a força das rejeições que um polo tenta usar contra o outro.
Bolsonaro já está praticamente derrotado, se considerarmos as pesquisas e a rejeição de que dispõe. Sua única forma de aumentar o espaço de crescimento seria manipular o contexto em favor de uma polarização com Lula, o outro campeão de rejeição.
Ciro Gomes e sua candidatura podem impor a Jair a derrota ainda no primeiro turno, levando a disputa para o segundo turno e impondo a Lula a derrota que Bolsonaro é incapaz de impor ao ex-presidente.
Estes são apenas detalhes. A razão principal que será capaz de empurrar a candidatura de Ciro Gomes para o segundo turno será a necessidade urgente de o Brasil ter um Projeto Nacional, algo que os outros nomes são incapazes de sinalizar para o Brasil.
Bolsonaro quer um segundo turno com Lula. Lula quer um segundo turno com Bolsonaro. Ciro é, hoje, o único com potencial de frustrar os planos de ambos e oferecer ao Brasil uma alternativa nova.
Por isto, sim, Ciro Gomes tem chances em 2022. Talvez até mais do que já tenha tido até então.