Um comentário de Ciro Gomes que circula nas redes pede atenção ao contexto mais amplo de uma polarização política planejada.
Entre os que ganhariam com ela, há aqueles que buscam repetir o drama de 2018 para chegar novamente ao segundo turno e eleger deputados – embora sem chance de vitória. E há aqueles que deixam a polarização acontecer, pois estão certos de que assim conseguiriam mais facilmente a reeleição de Bolsonaro.
Para isso, um passo necessário de ambos os grupos seria tentar rotular o terceiro colocado como alguém incapaz de angariar votos de diversos pontos do espectro político.
Fernando Haddad, durante entrevista concedida à BandNews em 02-03, fez questão de elencar Ciro Gomes como sendo um candidato “de direita“. Segundo ele, “A direita tem o Ciro, Moro, Mandetta, Huck, Dória, qual é o problema?”.
Contudo, o comentário de Haddad pode ter efeito reverso do pretendido. Buscando afastar Ciro da esquerda e aproximá-lo da direita, ele faz inferir que de fato o ex-governador cearense está conseguindo construir um diálogo consistente entre diferentes pontos do espectro político.
Polarização planejada?
Nos debates sobre suas propostas, Ciro tem reafirmado que pretende conjugar forças que atuem como centro político junto a forças que se auto-identificam como esquerda.
Isso porque, segundo ele, as respostas de que o país necessita dependem de agentes políticos e de propostas que circulam por pontos diferentes do espectro partidário brasileiro. A sustenção disso, afirma ele, deve ser o comprometimento desses agentes com pontos fundamentais de um Projeto Nacional de Desenvolvimento previamente debatido.
Tendo sido terceiro colocado nas eleições de 2018, não é novidade que Ciro Gomes é o alvo de uma comunicação sistemática para descreditá-lo perante os brasileiros não encaixados na polarização Bolsonaro x PT. Ou, então, perante aqueles mais identificados com um pensamento progressista.
Com isso, postagens diárias em blogs e sites de notícias ganham muito com a audiência e em seus números de acesso, ao inflamarem os ânimos de seus leitores contra o ex-ministro e, por consequência, ao despertarem a reação dos apoiadores do pedetista, bastante atuantes nas redes.
Estratégia esgarçada
Entretanto, as tentativas de “fazer a caveira” de Ciro perante um possível eleitorado já começam a se mostrar uma estratégia esgarçada. Reações de parlamentares, jornalistas e articulistas mostram cansaço com esse tipo de conduta.
Exemplos disso estão nas reações da jornalista Mariliz Pereira Jorge, da deputada estadual Isa Pena (PSOL) e do deputado federal Orlando Silva (PCdoB), que fez postagem irônica em referência ao ex-prefeito paulistano.
Reação de Ciro Gomes
Ciro, por sua vez, soube não pagar com a mesma moeda esses ataques – atitude que vem sendo aconselhada por frações de sua militância, para as quais as propostas do ex-governador precisam ser o foco.
“Esqueçamos o boneco! O problema é o ventríloquo”, disse ele, retirando o foco em Haddad e sugerindo que se observe aqueles planejam as estratégias levadas a cabo pelo ex-prefeito paulistano.
Muito provavelmente, nem o próprio Haddad crê na classificação usada por ele em referência a Ciro, sendo mero executante da abordagem que tenta barrar o pedetista.
A frase foi postada pelo perfil oficial do ex-governador como resposta à página Ciro Progressista, feita por apoiadores voluntários no Instagram.
A expressão popular usada por ele revela que, para o terceiro colocado das últimas eleições presidenciais, os episódios específicos de tentativa de ataque, apesar de incendiarem a militância, teriam importância menor. Isso se considerarmos que o eleitorado precisa, na verdade, compreender quem faz todo o planejamento por trás disso e com que finalidade esses ataques são buscados.