Recentemente, em sua coluna na Folha, o jornalista Clóvis Rossi ressaltou a necessidade de diálogo entre opostos no momento por que passa o Brasil, na coluna “Hora de aprender com o contrário”. Citando Nicholas Kristof, um jornalista liberal norte-americano, Clóvis referencia a capacidade de Kristof de “frequentemente aprender um bocado, ainda que penosamente, com […] conservadores” porque, segundo Kristof, tais conservadores “alegremente pegam fatos inconvenientes que seu lado tende a ignorar porque não se enquadram em sua narrativa[.] Deveria tanto ser possível acreditar na correção de nossa causa como ouvir o outro lado”, completa Rossi com a menção a Kristof.
Rossi destaca ainda em seu texto a constante menção que se ouve por aí de que as redes sociais criaram bolhas dentro das quais cada um conversa com os de “sua própria tribo” e “trata de desmoralizar qualquer outra”. Semelhante circunstância impõe um obstáculo ao debate e ao diálogo em torno de ideias e projetos, que deixam de ser analisados pelo que contêm e ficam reduzidos a uma representação caricata.
De fato, o Brasil precisa dialogar e entender o que é e como chegou à situação em que se encontra hoje. Isso exige que se dê a devida atenção a todos os lados envolvidos no processo, ou seja, a todos os brasileiros e brasileiras que protagonizaram e acompanharam com as próprias vidas a transformação do país, que permitiu o desembocar das águas da história no presente atual.
Afinal, são as experiências e o acompanhamento da ordem dos acontecimentos até aqui que permitiram a cada uma das partes criar as compreensões que, ao longo do tempo, pautaram uma narrativa e serviram de base ao que se entende como “Brasil” ou como mera “realidade”. Não é possível que tais percepções e compreensões – tão diversas e variadas! – do mesmo objeto de observação não dialoguem.
O colunista faz, ainda, referência à recente entrevista de Ciro Gomes à Folha de SP, no evento Folha de Jornalismo: “perguntado sobre como trataria a questão das drogas, em seu eventual governo, Ciro disse, primeiro, que compreendia as diferentes percepções em torno do assunto e acrescentou que chamaria os defensores de todas elas para conversar. Ou, posto de outra forma, não tomaria uma iniciativa de sua própria lavra”. Portanto, Ciro mediaria um debate, buscando se colocar como árbitro de uma grande discussão e não como porta-voz de um dos lados. É um de muitos exemplos sobre a disposição para o diálogo que tem Ciro Gomes – ainda que o colunista Clóvis aponte: “Ciro não é exatamente um conciliador”.
“[O] Brasil precisa dialogar, precisa sair da casa-mata em que se enterrou por essa estúpida guerrilha verbal. [… A] alternativa [a isso] é esse suicídio coletivo em curso”, conclui Rossi. Precisamos sair do transe em que nos colocamos e reagir, colidindo ideias divergentes com as quais qualquer intérprete da realidade possa aprender, independentemente destas satisfazerem ou não narrativa A ou B. Do contrário, reagirão por nós.