A edição da revista Veja de 6 de novembro de 1991 (no dia em que Ciro Gomes completava 34 anos) trouxe em sua capa, pela primeira vez, o então governador do Ceará e outras personalidades com a descrição Sim, o Brasil tem jeito. Dois meses depois, em janeiro de 1992, Ciro concedia sua primeira entrevista à revista em suas páginas amarelas. A entrevista, “republicada” pela revista hoje em seu site, relembra a primeira vez em que o atual pré-candidato à presidência apareceu na revista e em sua capa.
Os 27 anos que nos separam desta entrevista nos lembram as transformações pelas quais passou o país, de lá pra cá foram dois impeachment; da revista, que tinha então um propósito de ser mais plural e a trajetória do próprio Ciro que hoje tem mais tempo de vida pública do que tinha então de vida.
Em 1992, o precoce governador de estado fora chamado para falar sobre o sucesso de sua administração à frente do Ceará. Ciro havia então completado a exoneração de 40 mil funcionários ociosos, proibido o acúmulo de cargos e vencimentos e reduzido os cargos comissionados. Política que se traduziu em resultados: o estado, que anteriormente precisava de empréstimo para pagar seu funcionalismo, tinha limitado seus gastos de pessoal a 50% de seu orçamento. Em tom de anedota, a reportagem afirma que o “pão-durismo” do governador contemplava até os clipes de papel usados por seu gabinete. Mais do que simples ‘corte de gastos’, a gestão do estado, em transformação desde 1987, representava a possibilidade de se fazer obras, financiar microempresas e a atividade econômica e de se alcançar, naquele ano, uma redução de 30% da mortalidade infantil no Ceará (feito que valeu a Ciro um prêmio da Unicef).
Perguntado sobre como conseguia manter as contas do Estado em dia, já que “a maioria dos governadores não consegue”, Ciro elencou como fator principal o cumprimento disciplina de sua estratégia de planejamento orçamentário, no qual as prefeituras e regiões tinham previsibilidade dos investimentos do governo do Estado e a geração de superávit mensal que permitia o investimento em atividades econômicas e o expressivo crescimento na educação, que havia alcançado então 25% do orçamento do Estado.
Ciro Gomes, não quis dar uma “receita” que pudesse ser aplicada para resolver a crise brasileira de então, mas já formulava, a partir de sua experiência como governador, alguns dos preceitos que hoje, quase 30 anos depois, sustentam as bases de seu bem elaborado projeto nacional de desenvolvimento: “Antes é preciso haver esse ajuste fiscal de que falamos, aumentar a receita do Estado, mudar o sistema tributário, reduzir despesas e qualificá-las, tanto sob o ponto de vista da moral quanto do da eficácia.”
Essas chances rever a história são valiosas muito além de serem curiosidades, pois nos permitem compreender as trajetórias tanto de ponto de vista dos amadurecimentos de seus personagens, quanto de suas experiências acumuladas e coerências programáticas, como a que podemos perceber em Ciro Gomes e apreender que“nada é mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”.