Em entrevista ao programa Agora em Pauta, nesta quarta-feira (31), produzido pela TV Thathi de Ribeirão Preto (SP), Ciro Gomes comentou sobre o cenário brasileiro atual, envolvendo o contexto destrutivo do governo Bolsonaro e a necessidade de um debate político mais amadurecido para as próximas eleições. Na visão expressa por ele, “o ambiente é de terra arrasada“.
Segundo o entrevistado:
“O Brasil não pode reproduzir em 2022 uma luta de ódios e paixões que marcou 2018. Nós precisamos transformar essa luta numa construção que possa reunir o povo brasileiro, reconciliar o povo brasileiro, ao redor de um novo projeto pro país.”
Dois objetivos
De acordo com o trabalhista, “a situação brasileira está recomendando que os políticos tenham mais juízo“. Ciro tem reiterado abertamente em diversas participações na mídia que sua estratégia política segue o que vê como uma necessidade premente para o Brasil, que pode ser entendida por alcançar dois objetivos.
“Eu acho que nessas eleições [2022] nós temos dois objetivos: o primeiro objetivo é derrotar o Bolsonaro“, afirmou o terceiro colocado das últimas eleições presidenciais. Segundo ele, essa necessidade não se daria “por ódio ou vingança“, mas sim pela incompetência e destruição do Brasil causada pelo atual governo.
Ao se referir ao segundo objetivo, Ciro comenta que “a mais grave tarefa é construir o futuro, é botar um novo projeto nacional de desenvolvimento nesse lugar aí“. Acerca disso, o ex-governador cearense delineia algumas questões que ele próprio tem buscado responder nos últimos anos:
“Qual é o Brasil que nós temos? Qual é o Brasil que nós queremos ter? Quanto custa isso? Quem vai repartir a conta em qual proporção? Essas são as grandes questões que nós temos que discutir. Qual é o prazo que o Brasil vai garantir em que nós vamos ser ‘uma Espanha’ sob o ponto de vista de indicadores econômicos? 50 anos? 40 anos? 30 anos? […] Tudo isso é um por fazer, percebe? Um país que precisa importar máscara de proteção da China é um país que realmente precisa parar um pouquinho e pensar.”
Fraude de Bolsonaro e autocrítica de Ciro
Ao tratar do que tem sido o atual governo, o entrevistado afirmou que “Bolsonaro fraudou o discurso central dele“. Para Ciro, isso ocorreu, por exemplo:
“Quando [Jair Bolsonaro] faz um sinal de combate à corrupção e, no governo, tudo que faz é acobertar a roubalheira dos filhos, o envolvimento da sua família com o Queiroz […], e demite o Sergio Moro, a gente vê como era falsa a promessa de combate à corrupção. Bolsonaro destruiu a Lava Jato não pelos defeitos graves que ela sempre teve […]. E, agora com medo do impedimento, ele simples e puramente se acerta com o que há de mais viciado e antigo na política brasileira.”
O pedetista destaca, ainda, que “o sentimento de indignação da população em 2018 era justo“, mas Bolsonaro se valeu disso através de uma atuação ilegítima na campanha, trazendo agentes de fora (em referência à presença de estrategistas da campanha de Trump atuando em favor de Bolsonaro) e utilizando novos meios para espalhar notícias falsas em massa (referência aos disparos em massa pelo Whatsapp que foram pagos por empresários).
Ao relembrar o período eleitoral de 2018, contudo, Ciro faz uma reflexão sobre a falta de percepção dos demais candidatos, à época, sobre as reais chances de vitória de Bolsonaro. Nas palavras dele:
“E, aqui pra nós, também tem que fazer uma mea culpa de muita humildade: nenhum de nós deu a menor bola pro Bolsonaro. O Bolsonaro passou a perna em todos nós. A gente conversava, ninguém achava que o Bolsonaro tinha a menor chance de ganhar a eleição. Isso temos que dizer com muita humildade”.
Reconciliação com o povo brasileiro
A gravidade do momento e a percepção dos erros de análise na última eleição foram apontados por Ciro como fatores que argumento a favor de achar que os políticos “amadureceram” desde então.
É com base nessa ideia que o trabalhista comenta sobre o arco político que tem se firmado em torno de suas propostas e seu nome:
“Então nós estamos conversando. Quem pensa como eu, do centro para a esquerda e do centro para a direita, e que tem o compromisso em construir um caminho novo, estamos trocando ideias. Vamos ver se a gente consegue amadurecer um caminho pro povo brasileiro. […] Minha tarefa não é simples porque eu não quero atalho. Eu não quero vender a alma pra ser presidente do Brasil.”
As tratativas de Ciro Gomes em busca de apoio às bases do projeto de país debatido por ele foram, nesta sexta-feira (02) mencionadas pelo jornalista Reinaldo Azevedo, para quem as últimas mudanças de conjuntura política tiveram como efeito “a emergência de Ciro Gomes (PDT) como uma alternativa de um arco ideológico que vai da direita democrática à centro esquerda“.