Começa amanhã (20/07) o prazo para que os partidos realizem as convenções de escolha de candidaturas nestas eleições. Com as conversas se encaminhando, nas últimas semanas, as perguntas a Ciro Gomes com relação a suas alianças políticas têm sido frequentes.
Ainda que muitos políticos prefiram não tratar do tema e tergiversar sobre as motivações para suas alianças, o pré-candidato trabalhista tem apresentado postura diferente, falando abertamente sobre o entendimento que tem buscado, com quais lideranças, em quais pontos e com quais dificuldades. Ontem, quarta-feira (17/07), em entrevista ao vivo na Rádio Bandeirantes de São Paulo, Ciro mais uma vez respondeu a esses questionamentos.
Segundo Ciro, a gravidade da situação nacional é o que dá sentido a suas ações nesse momento de tentativa de ampliação do arco de alianças. Milhões de pessoas desempregadas, milhões empurradas para o trabalho informal precarizado, mais de 60 milhões de brasileiros com o nome no SPC, mais mil indústrias fechando no último ano, violência vitimando cerca de 60 mil pessoas nos últimos 12 meses. Todos esses foram fatores lembrados por Ciro Gomes para chamar atenção para o cenário atual de esfacelamento da nação.
“Precisamos proteger o povo brasileiro e construir uma mudança profunda”, disse Ciro ao explicitar o intuito das ações que vem tomando para resolver o estado de coisas atual no país. Nas palavras dele:
“É preciso que as alianças se façam à luz do dia, na frente da opinião pública e ao redor de ideias-força. E essa é a única circunstância em que eu aceitarei isso que pra mim foi uma surpresa. Eu sei (porque eu tenho um olho na eleição e um olho no dia seguinte) que nenhum partido brasileiro vai fazer muito mais do que 10% da Câmara de Deputados. Ou seja, os analistas dizem que aquele partido que mais vai ter deputados eleitos vai fazer uns 60 [deputados], numa Câmara de 513. E o que nós precisamos fazer pra mudar essas leis, pra enfrentar com mais dureza a violência, o narcotráfico, por exemplo, exige maiorias qualificadas [no Congresso]. Portanto, é preciso olhar a coerência e isso tem que ser feito através de programas. Por isso que eu convoquei aqueles que apareceram de surpresa pra esse diálogo, pra gente discutir programa. Porque só faz sentido a gente se reunir se for de fato pra anunciar uma mudança pro Brasil”.
A disposição de Ciro em discutir o que motiva suas alianças dá aspecto novo e esclarecedor ao debate político nacional neste ano, pois não nega para a população uma realidade que se impõe: é preciso haver um ocupante com força de ideias e um projeto para a presidência e é necessário trazer a composição do Congresso para se posicionar claramente sobre esse projeto. Explicar em nome de que são feitas as alianças políticas (e em quais pontos de seu projeto cada legenda poderia atuar) diferencia dos antigos arranjos este modo de construir apoio centrado em um projeto.
Ciro também mantém jogo aberto sobre o real estado de discussão das alianças. Perguntado sobre qual dos partidos estaria mais próximo, respondeu:
“Essa fase é muito crítica porque é mais ou menos assim: é muita andorinha voando e nenhuma na mão. […] E essas conversas são feitas assim mesmo porque o momento brasileiro é muito delicado. Depois do que aconteceu com o Lula o quadro político ficou todo meio instável, dependente disso, daquilo, uma exacerbada presença do judiciário na política e os partidos também estão vivenciando essa insegurança.”
O ex-ministro e ex-governador mencionou ainda que, embora a legenda mais próxima hoje seja o PSB, a questão do apoio em âmbito nacional não se encontra fechada porque essa decisão é influenciada pela realidade específica dos partidos em cada estado. Como exemplos disso, citou os estados de Pernambuco e São Paulo, nos quais o PSB estadual se inclinava inicialmente em alianças com outros partidos (respectivamente, com o PT e com o PSDB).
Sempre presente em falas públicas ou em entrevistas, as alianças políticas de Ciro Gomes são objeto de discussão, enquanto outros pré-candidatos não são nem mesmo perguntados sobre o tema ou, quando perguntados, respondem com frases evasivas ou minimizando tratativas.
Ao falar de modo aberto sobre as alianças “feitas à luz do dia”, Ciro Gomes finalizou: “As pessoas às vezes não compreendem isso mas isso é imposição da realidade brasileira. A gente tem que administrar isso com serenidade, com humildade, mas com o sentido de que esses encontros só têm razão de acontecer se for pra executar um projeto que mude o Brasil.”