Convidado da última sexta-feira (29/06) no programa Mariana Godoy Entrevista, Ciro Gomes explicou a motivação para os diálogos que vem mantendo sobre alianças políticas. Tratando do cenário político com as complexidades que lhe são inerentes, Ciro concluiu: “Só tem um jeito. É fazer um entendimento pro futuro ao redor de uma coisa muito clara: um Projeto Nacional de Desenvolvimento que deve se comprometer com os interesses práticos de quem trabalha e de quem produz”.
Ciro Gomes tem dialogado com lideranças políticas de vários partidos e menciona PCdoB e PSB como parceiros prioritários para o processo eleitoral que se aproxima neste ano. Ao fazer essa menção, Ciro inclui uma ressalva por saber que o PCdoB apresenta a pré-candidatura da deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila à presidência. Mesmo assim, não deixa de seguir dialogando com lideranças do partido pois, para ele, juntando-se esses dois partidos ao PDT, ambos comporiam uma hegemonia moral e política em sua futura candidatura.
Além disso, Ciro enfatiza que apresentará ao país propostas caracterizadas pela centro-esquerda. Tal menção, apesar de contrariar os que esperariam referências somente a um dos polos políticos, indica o reconhecimento por parte do ex-governador de que, no momento atual do país, um projeto que figure somente no enquadramento político da esquerda excluiria questões importantes que, hoje em dia, não têm sido tema prioritário das esquerdas brasileiras – por exemplo, a questão da dívida pública brasileira, os setores específicos nos quais buscar a reindustrialização, a preocupação com inovação, defesa e inteligência, todos temas que as esquerdas brasileiras pouco têm debatido.
Diante das ameaças ao país, Ciro busca um entendimento necessário ao futuro, o que para ele parece significar reconhecer as diferenças entre os principais atores políticos do país e lidar com elas na medida em que houver concordância sobre o que se está propondo ao país. É com base nisso que Ciro menciona suas conversas com o DEM pois, para ele, ao discutir alianças políticas nesse momento importaria mais em nome de que são feitos esses diálogos.
Em entrevista ao programa Mariana Godoy Entrevista na última sexta-feira (29/06), Ciro Gomes respondeu a uma pergunta sobre os diálogos com o DEM e com o PP.
“Eu gostaria muito e estou fazendo tudo que está ao meu alcance para ampliar a aliança. Porque eu, com essa experiência, eu sei o tamanho do problema do Brasil. Para você construir uma situação econômica que crie 13,7 milhões de empregos, pra você construir uma situação que enfrente a violência, pra tudo isso eu vou precisar ter muita, muita, muita maturidade, muita experiência e muito apoio. E aí isso põe o meu olho do outro lado. Então o que é que eu estou pretendendo fazer? Dizer ao povo com sinceridade, com humildade, com seriedade que, se nós olharmos para trás, parte dessas alianças são uma contradição inexplicável” – disse o ex-ministro e ex-governador. Ciro explica, então, o motivo que faz acontecer essa aparente incoerência: “só tem um jeito de explicar essa ‘incoerência absoluta’. É um projeto para o futuro”, que se justifica pela gravidade dos problemas atuais.
Segundo já dito pelo pré-candidato trabalhista em outros momentos, debater, propor e deixar claro seu projeto de país antes das eleições seria um bom modo de garantir a efetividade de boas alianças políticas, uma vez que, se a população elege seu presidente juntamente com suas ideias claras, os membros da aliança política vencedora nas eleições ficariam todos vinculados a um projeto político que a população espera ver implantado, dando a Ciro mais força para cobrar dos aliados à fidelidade ao novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que ele vem debatendo.
Enquanto isso, o professor Mangabeira Unger, membro da equipe de Ciro, tenta lembrar a todos que o DEM, apesar de muito marcado pelo rótulo de partido da direita, abriga lideranças políticas que são empreendedores regionais pelo Brasil e que, em suas respectivas regiões, poderiam agir de modo mais coerente ao desenvolvimento proposto pelo projeto de Ciro do que pela cartilha neoliberal. Tal afirmação dá a dica de qual pode ser a coesão buscada pelo pré-candidato trabalhista no diálogo com esse partido.
Além disso, nos últimos dias, diversas manchetes afirmam que o PSB estaria fechando as conversas com Ciro no sentido de apoiá-lo nestas eleições. E, antes disso, a pré-candidata Manuela D`Ávila já havia informado que seu partido não deixaria que fosse do PCdoB o rótulo de obstáculo à união das candidaturas progressistas nestas eleições.
Na entrevista da última sexta-feira, Ciro comentou ainda sobre as críticas recebidas por dialogar com tais partidos e lembrou que, apesar de tais críticas se dirigirem a ele, políticos que apoiaram o golpe e políticos do Partido dos Trabalhadores (ou seja, golpistas e golpeados) estão se apoiando em eleições estaduais sem receberem as mesmas críticas.
Se diante da gravidade da situação atual do país Ciro Gomes tem buscado um entendimento cujo fundamento seja um novo projeto nacional de desenvolvimento; se – do centro à esquerda – há partidos interessados nessas propostas; se as fundações ligadas aos principais partidos de esquerda ao longo do ano já se uniram em reuniões e manifestos públicos para fechar posicionamento diante de questões importantes e se há partidos que não insistirão na divisão das candidaturas progressistas, quem serão, afinal, aqueles que irão se opor a isso? Como conseguirão justificar aos brasileiros uma possível desunião que deixaria todos num risco real de esfacelamento do país?