Ciro Gomes (PDT) lançou, na quarta-feira (25), o primeiro vídeo da série destinada a homenagear os 60 anos da Campanha da Legalidade. Arregimentado por um dos maiores nomes do trabalhismo brasileiro, Leonel Brizola, o movimento popular (iniciado em 25 de agosto de 1961) ganhou as ruas e impediu a efetivação do golpe planejado pela cúpula militar brasileira.
Em sua fala, Ciro destacou tanto a relevância histórica como o caráter simbólico do movimento:
“Trata-se de uma data a ser lembrada por todas as brasileiras e todos os brasileiros que lutam e defendem a democracia. E um exemplo a ser seguido por civis e militares que defendem e honram a Constituição […] A Campanha da Legalidade deve ser, para nós, um símbolo de alerta e resistência, agora que vozes raivosas e desvairadas pregam contra a democracia e já ameaçam previamente o resultado de eleições”.
Quer saber o que foi a Campanha da Legalidade e em qual contexto se deu? Vem com a gente! Preparamos um resumo para te ajudar a compreender o movimento e, de quebra, dar uma base para acompanhar os próximos vídeos.
A renúncia de Jânio Quadros assanha os golpistas
Em 25 de agosto de 1961, uma sexta-feira, Jânio Quadros (PTN) renunciava à Presidência e abria um dos mais importantes capítulos da história do Brasil. Ao longo de 14 dias, o país esteve diante de um enorme impasse político. De um lado, os golpistas; do outro, os legalistas.
Tudo começou quando, após a mal explicada renúncia de Jânio, ministros militares, alguns governadores e setores reacionários da sociedade buscaram, ignorando a Constituição Federal, impedir a posse do vice-presidente João Goulart (PTB – atual PDT), mais conhecido como Jango. Vale lembrar que, naquele 25 de agosto, Jango estava em visita oficial à China, fato que, em certa medida, poderia facilitar os planos dos militares.
Todavia, em reação imediata ao anúncio de Jânio e à sanha golpista, levantou-se a voz do governador do Rio Grande do Sul (RS), Leonel Brizola.
A Campanha da Legalidade estraga os planos da cúpula militar
Entre 25 de agosto e 7 de setembro de 1961, Brizola transformou o RS em um centro de resistência e liderou o movimento popular de defesa legalista que marcaria para sempre o Brasil. Garantir a posse de Jango significava garantir a ordem constitucional. Brizola, é claro, sabia disso.
“A primeira coisa que atentei foi para a injustiça que estávamos sofrendo: não podem nos desrespeitar dessa maneira. Por mais fortes que eles sejam. E eu passei a pensar – em nome do direito; em nome do que era correto; da nossa dignidade. E aquilo teve uma resposta do povo brasileiro”, declarou Brizola, em 2003, ao explicar as razões que o levaram a iniciar a Campanha da Legalidade.
Dois eventos podem ser destacados como decisivos à vitória do movimento. O primeiro deles foi a irrestrita lealdade da Brigada Militar (PM gaúcha) e o apoio do 3º Exército (atual Comando Militar do Sul) a Brizola. O comandante do 3º Exército, José Machado Lopes, não apenas ignorou a ordem do ministro da Guerra, Odílio Denys, de conter o governador gaúcho como foi, no dia 28 de agosto, ao Palácio Piratini para prestar apoio formal à Campanha da Legalidade.
O segundo evento decisório foi a criação da Rádio da Legalidade. Em uma jogada de mestre, Brizola ordenou, em 27 de agosto, que a BM guarnecesse a torre de transmissão da rádio Guaíba (única das grandes emissoras gaúchas a não divulgar o manifesto que denunciava o golpe) e transferisse seus equipamentos para os porões do Piratini. Poucas horas após o corajoso ato, dezenas de emissoras já retransmitiam ao mundo os discursos proferidos por Brizola no subsolo do Palácio. Estava, assim, organizada a Rede da Legalidade.
Foi através das ondas dessa rede legalista que Brizola conseguiu alertar o mundo sobre o que acontecia no Brasil, mandar mensagens ao Exército e, acima de tudo, mobilizar a sociedade civil. Durante os 14 dias de Campanha, a Praça Matriz, próxima ao Palácio Piratini, reuniu multidões. Caravanas organizadas em municípios do interior gaúcho rumavam diariamente a Porto Alegre e somavam fileiras à resistência.
Ao conquistar apoio massivo da população, a Campanha da Legalidade foi capaz não apenas de garantir a posse de Jango, em 7 de setembro de 1961, mas também de conter os fantasmas do autoritarismo que, hoje, voltam a nos assombrar. Ao homenagear os 60 anos do movimento, portanto, o trabalhismo levanta mais uma sua voz em defesa das instituições, da soberania nacional e, principalmente, do direito que o povo brasileiro tem de escrever a própria história.
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Veja na íntegra o vídeo publicado por Ciro Gomes:
Quer mais detalhes sobre a Campanha liderada por Brizola? Acesse a cartilha produzida pelo Centro de Memória Trabalhista e fique de olho no site e nas redes da TodosComCiro.