Entrevista de Ciro Gomes no Manhattan Connection
Na última quinta-feira (14), o programa Manhattan Connection, do canal My News, recebeu Ciro Gomes e o publicitário Nizan Guanaes. O programa apresentou ótimos momentos e acaloradas discussões de alto nível, como quando: a) Ciro teceu sobre o que a mídia convencionou chamar “preguiçosamente” de terceira via; b) o anúncio de Ciro, se eleito, convidar os atuais membros da diretoria do Banco Central para pedirem o desligamento; c) sua opinião sobre o pedido de reconhecimento do sistema democrático pela China; d) a guerra entre Rússia e Ucrânia; e) o comentário emocionado de Nizan sobre Ciro ser o único candidato à presidência que divulga e debate sobre seu projeto de governo, dentre outros.
Ainda que exceções, os entrevistadores cometeram alguns deslizes desnecessários, quando, por exemplo, Lucas Mendes questionou Ciro sobre quais eram os maiores países da Europa, sem deixar claro se se referia ao poder econômico ou tamanho geográfico, e Caio Blinder distorceu a fala de Ciro e Nizan sobre o sistema democrático chinês.
Para Ciro Gomes, o saldo de sua participação no programa pode ser encarado como extremamente positivo. Primeiro, pela produção de conteúdo de alta qualidade, sobre assuntos relevantes e complexos. Segundo, Ciro em nenhum momento se esquivou, alterou ou titubeou nos questionamentos que recebeu, alguns claramente tendenciosos (como os dois supracitados). Terceiro, sua participação lhe rendeu a oportunidade de aparecer fora de sua “bolha”. E, por último, recebeu elogios e reconhecimento mesmo de quem não concorda integralmente com suas ideias e propostas, caso do episódio do Nizan Guanaes.
Aliás, a entrevista do publicitário também merece ser assistida. Experiente em campanhas publicitárias eleitorais, Nizan ressaltou a importância de que, no atual momento do país, discuta-se sobre ideias e propostas de projetos de governo dos candidatos à presidência. Nesse particular, teceu elogios à postura exemplar de Ciro, por ser o único candidato que vem trazendo o debate para o campo das ideias. Também criticou a mídia por se concentrar muito na análise de pesquisas eleitorais, relegando a segundo plano justamente os planos de governos dos candidatos.
Eleição não é corrida de 100m rasos, é maratona
A avaliação distorcida da mídia sobre as atuais pesquisas eleitorais foi denunciada em meu último artigo publicado na TodosComCiro. Nele, tive oportunidade de mostrar duas falácias reproduzidas pela mídia: o determinismo entre as pesquisas realizadas há seis meses das eleições e os resultados eleitorais, refutado com dados comparativos, e o fatalismo de que não há nada mais que ser feito no atual cenário e que o segundo turno já está dado entre Lula e Bolsonaro.
Parece que há certa pressa para que as eleições sejam definidas. Não querem que a população tenha o tempo suficiente e que lhe é legítimo de ouvir as propostas dos candidatos, e seus diagnósticos da situação corrente no país. É como se quisessem transformar uma maratona numa corrida de 100m.
Os candidatos ainda sequer estão todos definidos. A entrada e saída de candidaturas vêm influenciando as atuais pesquisas, embora elas estejam interferindo mais nessas decisões. É uma retroalimentação. A campanha oficial, quando começar de fato, com os reais candidatos à presidência e vice, seus apoios partidários e programas de governo, tornará mais nítido o embate.
Os dois candidatos à frente cometem erros e nada propõem. Apenas nas propagandas eleitorais terão oportunidade de manter essa farsa. Nos debates, serão obrigados a discutir propostas com outros candidatos, coisa não é o forte de ambos. É crucial que o povo se atente às proposições dos presidenciáveis e não à “funalização” maniqueísta da qual a mídia é cúmplice. Promovem a “imBBBcilização” das eleições. Isso vende espaço na mídia, mas acaba com o país.
Ciro não está estagnado e pode crescer mais
Uma nova falácia propalada ultimamente é que a candidatura do Ciro Gomes não decola. O último a fazer essa afirmação foi Nelson Motta, na sua coluna mais recente no O Globo. Isso não é verdade. Ela está sendo preparada. Ciro vem avançando nas redes sociais. Já possui mais inscritos que Lula no YouTube (411 mil, 1.000 a mais que Lula) e seu canal na plataforma atingiu a marca de 50 milhões de visualizações. Conforme artigo de Antônio Duarte Vargas no portal Disparada, de março de 2022, a despeito de não superar Lula em outras redes sociais, o YouTube é aquela em que, proporcionalmente, possui maior penetração (64,3% da população) e que os usuários mais utilizam para se informarem sobre eleições presidenciais (42%).
Ademais, é interessante analisar sobre a estratégia e desempenho de Ciro Gomes nas redes sociais, como Vargas faz no artigo supracitado, quando afirma que:
“Enquanto Lula e Bolsonaro já são amplamente conhecidos e por isso possuem muitos seguidores, Ciro investe no engajamento que cria militantes. Como se diz no mercado em ascensão da comunicação política digital: “like não é voto”. Os conteúdos e a frequência da produção de Ciro tem gerado um impacto muito maior do que os de Lula e Bolsonaro, que apesar dos muitos likes, geram pouco engajamento de seu público já estagnado. Ciro tem atingido milhões de visualizações apesar de seus canais terem muito menos seguidores que seus concorrentes. Com dados extraídos via API (Application Programming Interface), a pré-campanha de Ciro tem obtido resultados muito expressivos em comparação aos demais”.
A leitura apressada e superficial de estagnação da candidatura de Ciro não considera a qualidade e potencial do trabalho que vem sendo feito de preparação prévia ao início da campanha, capitaneado por João Santana, somente os seus resultados no curto prazo. Também é feita sem qualquer embasamento nas perspectivas dos demais candidatos, quem deve se manter ou ainda pode entrar ou retirar sua candidatura. Moro era dado como certo e pode nem sair candidato ao legislativo em São Paulo. Filiou-se a um partido, União Brasil, aventado inclusive para apoiar Ciro.
As candidaturas de Doria, Janones e Tebet ainda precisam de confirmação. Leite ainda não tem futuro definido. São os candidatos do que podemos chamar de “terceira fria”: qualquer das opções, exceto Ciro, manterá os mesmos modelos político e econômico que fracassaram até aqui. Nesse aspecto, o mesmo se espera principalmente das ditas primeira e segunda via (Lula e Bolsonaro).
Os partidos tampouco definiram qual será o seu posicionamento. Além do União Brasil, o PSD igualmente não sabe se lançará candidato ou apoiará algum de outro partido. Ciro vem construindo bom diálogo com alguns ilustres nomes do partido (Kassab, Paes e Kalil). Logo, são vários cenários possíveis, e muito imprevistos por ora. As pesquisas só são capazes de retratar o momento e as perspectivas com as informações disponíveis. Qualquer tentativa de fatalismo será pura especulação.
Enquanto isso, tanto Lula e Bolsonaro erram severamente. Bolsonaro segue cometendo crimes eleitorais, às vezes, parece querer sabotar a sua candidatura. É vaiado em tudo que é aparição pública. Não apresenta propostas, assim como Lula. Esse, por sua vez, não faz mea culpa nem se pronuncia sobre os erros que ele e Dilma cometeram no governo. Não tem estratégia consolidada para sua campanha nas redes sociais. Aliou-se a Alckmin, agora no PSB, uma forte contradição, a qual inclusive pode estar impactando na sua queda nas preferências dos eleitores. A militância lulopetista segue apostando na arrogância nas redes sociais, e mesmo nos comícios, como quando vaiou Paulinho da Força, do Solidariedade, podendo comprometer um importante apoio do partido à campanha de Lula. Aliás, são dois pesos e duas medidas de tratamento a Alckmin e ao sindicalista. Nessa toada, ambos podem comprometer seriamente o desempenho de suas candidaturas.
Por sua vez, Ciro vem costumeiramente sendo convidado a participar de programas na TV ou na internet, muito mais que seus adversários. Possui um nome conhecido e com menor rejeição que os dois únicos candidatos que já foram presidentes. É o candidato mais viável até o momento para receber votos dos eleitores que não querem Lula nem Bolsonaro. Isso inclusive está sendo analisado pela coordenação da campanha de Ciro. Essa vem trabalhando incessantemente, ajustando a estratégia de romper essa polarização, como recentemente com o lançamento do slogan “Tá na hora de você olhar pro Ciro”.
A prepotência narcisista de Lula e Bolsonaro ainda vai lhes custar estas eleições. Repetindo a metáfora do mundo das corridas, os dois parecem aqueles corredores que desaceleram quando estão perto da linha de chegada, não olham para trás porque estão completamente convictos que vencerão, mas acabam sendo superados por alguém que dá um sprint (arrancada final). Vindo de trás, Ciro vem acelerando o ritmo e aumentando a passada, seguindo disciplinadamente uma estratégia muito bem elaborada para a corrida presidencial. A nossa maior esperança é que Ciro chegue com mais energia e fôlego no final e ultrapasse seus adversários, seja no primeiro e/ou no segundo turnos.