Jair Bolsonaro é presidente há um ano e dois meses. Antes de sua eleição, no primeiro turno de 2018, Ciro Gomes foi uma das mais alertas e ativas lideranças a denunciar os perigos da ascensão do bolsonarismo ao poder.
“Projeto de Hitlerzinho tropical”, “cédula de três reais”, não faltaram rótulos no vocabulário do ex-governador cearense para descrever o atual presidente, inclusive vários que dispensavam qualquer forma de elegância.
Retroescavadeira anti-milícia
Reagindo ao sequestro orquestrado por aspirantes a milicianos da cidade de Sobral, berço político dos Ferreira Gomes, Cid foi atingido por dois tiros desferidos por policiais motineiros.
A atitude do Senador foi heroica e deixou claras pelo menos duas mensagens ao Ceará e ao Brasil:
A primeira, que o momento nacional é delicado. Conta com tramas mirabolantes que objetivam sequestrar o Estado e o poder público em benefício de uma organização criminosa cujo berço está no Rio de Janeiro.
Reproduzindo práticas de milícias cariocas, policiais rebeldes cearenses desenvolvem novas células milicianas no estado nordestino.
Não é coincidência que boa parte dos políticos bolsonaristas que seguiam carreira policial e ingressaram na vida política apoiem os motins.
Nem que um dos apoiadores dos motins almoçou com Jair Bolsonaro momentos antes de Cid ser baleado.
Até deputada carioca bolsonarista esteve no estado se envolvendo no episódio.
A segunda mensagem deixada pelo Senador é melhor vocalizada por Ciro Gomes em suas manifestações públicas que sucederam o incidente: “será necessário que nos matem para que milícias tomem controle do Ceará”.
Os Ferreira Gomes, assim, transformam o Ceará em foco de resistência à sanha bolsonarista de exportar seu modelo político do Rio de Janeiro para outros estados brasileiros.
Ferreira Gomes X Bolsonarismo
Silenciada, a autodeclarada “principal oposição a Bolsonaro” deixou passar batido um dos mais graves incidentes da República desde que Jair Bolsonaro foi eleito.
Independente da vertente política a que pertence, um Senador da República foi baleado por policiais que se sentiram autorizados, empoderados por um discurso que se encontra alojado no Palácio do Planalto, a desferir tiros contra um político representando a sociedade civil.
O simbolismo é bastante bruto e simples de compreender: um Senador, enquanto civil, acompanhado de dezenas de outros civis, pôs-se a reagir à obstrução da ordem em sua cidade e foi recebido a tiros por homens que deveriam garantir a ordem, a paz e a segurança da população.
A maioria do PSOL, do PT e do PCdoB não se pronunciou com mais do que notas protocolares e desejos de melhoras para Cid, deixando de tratar o que segue ocorrendo no Ceará com a devida gravidade.
Várias lideranças e partidos, contudo, trataram do episódio adequadamente: o PSB foi um deles.
Da postura do PT, não há muita surpresa: calaram-se durante o primeiro turno das eleições de 2018 por acreditarem que Bolsonaro era o “mais fácil candidato de se derrotar”. Seguem calados.
Apesar disso, faça-se justiça, a ex-presidenta Dilma Rousseff pronunciou-se à altura do momento.
A postura dos demais partidos, contudo, surpreende.
Enquanto isso, as consequências dos motins já somam mais de 170 mortos no estado do Ceará.
Não é leviano o que está acontecendo no estado. Homens encapuzados que deveriam garantir a ordem espalham o terror e o medo empoderados por um discurso político.
Toda a sociedade civil, e especialmente a oposição, deve voltar suas atenções para o desenrolar de manifestações da PM em cada estado da federação, com foco especial no Ceará.
“Nós, aqui do Ceará, somos e seremos o pior pesadelo de sua família de canalhas, milicianos e peculatários corruptos!” – Ciro Ferreira Gomes à imprensa
O pior pesadelo da família de canalhas e a gravidade do momento
De atenção voltada às manifestações das PMs de cada estado, devemos responder ao bolsonarismo e seus intérpretes com a energia que Ciro vem expondo em suas colocações.
Não podemos deixar o bolsonarismo encontrar terreno fértil para se proliferar, espalhando o caos e cooptando instituições públicas, como a PM, com a mesma corrupção que associou o clã aos milicianos do estado do Rio de Janeiro.
Bolsonaro e sua família sempre estiveram ligados a tudo que há de pior no Rio de Janeiro.
As constrangedoras conexões de sua família com milicianos ocupam os noticiários diariamente, e a elas reagimos de forma catatônica, como se esse trator pudesse passar por cima da sociedade sem quaisquer reações fora algumas hashtags e manifestações passivas de “resistência”.
Devemos, enquanto trabalhistas, progressistas, republicanos, democratas ou seja nossa vertente política qual for, nos posicionarmos frontalmente: aqui, não!
A oposição ao bolsonarismo e seus intérpretes
Cid Gomes tentou demarcar o território ao lado de Dilma Rousseff em 2015, exigindo limites à relação do Governo de então com Eduardo Cunha e o lado quadrilha do MDB.
Chamou o ex-presidente da Câmara, atualmente preso, de “achacador” e cobrou do PMDB que acabassem as chantagens com o Governo Federal de então.
Não obteve sucesso, tendo a presidenta escolhido se alinhar a Cunha e ao MDB.
Dessa vez, Cid e Ciro não estão sozinhos: espalharemos a informação de que há um movimento golpista que visa expandir o “milicianismo” do bolsonarismo Brasil afora e demonstraremos nossa inconformidade com isso.
Resistiremos de verdade, e não com hashtags e frases de efeito.
Pilotando retroescavadeiras, se necessário for.
Façamos de nossa fala armas de oposição aos arreganhos milicianos e golpistas do Presidente da República e suas hienas, partindo à resistência física se exigido pelo momento.
Até que expurguemos do poder o bolsonarismo, seus intérpretes, suas consequências e seus cúmplices não declarados, devemos vocalizar nossa intransigente oposição.