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Febre Amarela, Doença do Século XIX, Forma Filas em São Paulo

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Quem visitar São Paulo nos próximos tempos pode se deparar com uma cena inusitada. Em alguns pontos da cidade é possível ver filas quilométricas formadas ao longo do dia ou até mesmo através das madrugadas, próximo a alguns pontos de saúde. São indivíduos em busca da vacina contra a febre amarela, que vive um novo surto no país.
Os dados são expressivos. De acordo com o Google Trends, as buscas pela doença no Brasil aumentaram em 9 vezes nos últimos 7 dias. O Estado de São Paulo é o líder isolado nas buscas, apresentando o dobro a mais de pesquisas por febre amarela do que o segundo colocado, o Rio de Janeiro.
Entre as consultas relacionadas estão “vacina fracionada febre amarela”, “valor vacina febre amarela” e “postos de vacinação febre amarela sp”. Ou seja, o que move o interesse pela doença é principalmente o desejo de se proteger da mesma.
Fonte: Google Trends
Estas pesquisas revelam o pânico vivido pela população diante do surto de uma doença que em alguns casos pode ser letal. De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta terça feira (16), houve 35 casos de febre amarela confirmados no Brasil entre julho de 2017 e 14 de janeiro de 2018.
São Paulo lidera o número de casos com 20 ocorrências. Minas Gerais segue com 11 casos, seguido por Rio de Janeiro (3) e Distrito Federal (1). Atualmente há 145 casos em investigação, e 290 já foram descartados. São Paulo também é o líder de mortes com 11 óbitos decorrentes da doença, seguido por MG (7), RJ (1) e DF (1).
O surto atual de febre amarela ainda não possui explicação clara. Entre as hipóteses estudadas estão o aumento do número dos mosquitos transmissores (entre eles o Aedes Aegypti, vetor da dengue), a falta de vacinação onde a doença foi registrada, ou até mesmo o desastre ecológico de Mariana.
Em todo caso, o retorno da febre amarela se trata de uma vergonha inaceitável para o país. No final do século XIX e começo do século XX o Brasil foi um destino temido por estrangeiros, devido aos casos frequentes de febre amarela que ocorriam nas tripulações de navios estrangeiros e em outros visitantes internacionais.
Durante um período, navios que passavam pelo Brasil eram obrigados a ficar em quarentena nos portos de nações desenvolvidas, causando prejuízos para a imagem do país, ao comércio internacional e ao turismo. Foi o esforço do médico e sanitarista Oswaldo Cruz que começou a reverter o quadro nefasto provocado por esta doença.
O surto de febre amarela em 2018 assim como as filas provocadas pela população desesperada, são fontes de profunda revolta. Eles evidenciam a dificuldade do país em resolver questões do século XIX, como um saneamento básico satisfatório, e do século XX, como a vacinação adequada.
Enquanto o governo joga a responsabilidade do combate ao Aedes Aegypti para a população, 16,7% dos brasileiros ainda não possui abastecimento de água, e apenas 50,3% possui coleta correta de esgoto. É consenso entre os especialistas que enquanto a questão do saneamento não estiver resolvida, o Aedes Aegypti continuará sendo um problema grave para a população.
O drama atual serve para evidenciar que apenas um projeto nacional forte e a vontade política podem superar mazelas do século XIX. Foi o consenso entre as autoridades brasileiras da necessidade de controlar a febre amarela e dos prejuízos que ela causava para a imagem do país, no começo do século XX, que deu margem para a atuação de Oswaldo Cruz.
Um bom caminho para se iniciar o debate desta questão seria a derrubada da PEC de gastos, que imobiliza os investimentos públicos por 20 anos, e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e da atuação de seus profissionais.