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Ciro Gomes contraria fast-food político ao falar em Belo Horizonte

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No microcosmo jornalístico e em suas relações com o campo político, os “debates sobre o Brasil” estão cada vez mais presentes. São diversos tipos de eventos, formatos e cenários para levar pré-candidatos e lideranças políticas a falar publicamente suas opiniões e propostas. Mas, será mesmo que tais eventos permitem um verdadeiro debate?
Ciro Gomes tem participado, há mais de dois anos, de centenas de eventos pelo Brasil, em universidades, associações, rádios, seminários políticos, em programas de entrevista, grande parte deles com transmissão ao vivo. O pré-candidato trabalhista enfatiza a necessidade de criarmos uma corrente de opinião no Brasil para compreender os problemas com a complexidade que eles exigem.
É por isso mesmo que Ciro Gomes se recusou, nesta terça-feira (19/06), a continuar participando de um “debate falsamente verdadeiro” que se instaurou no Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte. O significado político do ocorrido é recusar-se a apresentar propostas e ideias para o Brasil como quem fornece aos outros alimento político processado e pré-digerido.
O país vive uma aguda crise mas os meios de mídia e muitos organizadores de eventos políticos (ou seja, aqueles que deveriam cumprir o dever de levar à população questões importantes e em profundidade, para ajudar a formar a opinião) eximem-se dessa tarefa. Longe de cumprir com isso, acabam por fazer crer que a política e o ano eleitoral no país podem ser como o entretenimento de série televisivas com episódios de 20 minutos ou como produtos de uma rede fast-food, processados e prontos para serem digeridos com um conjunto de frases amplas, genéricas e pré-prontas.
Ciro Gomes claramente se insurge contra isso, e não o fez apenas hoje, pois em diversos momentos sinaliza para auditórios e para jornalistas que sua fala tem como propósito finalmente deixar de silenciar os debates necessários ao país. Falar dos assuntos necessários (como a dívida pública brasileira, a desindustrialização, a previdência social, a saúde, a educação, a relação com o Congresso de um modo inovador, o combate à desigualdade social) é o verdadeiro desafio.
Ciro está tirando de debaixo do tapete esses assuntos guardados há tempos e, para alguém que enfrenta esse desafio, deve ser realmente difícil lidar com a ideia ilusória de que em 3 minutos de resposta cada assunto como esse deve ser abordado e esgotado.
Não foi apenas por contrariar o fast-food político que Ciro Gomes deixou o evento em Belo Horizonte. Falar publicamente por, em média, 5h por dia, em diferentes lugares do Brasil, exposto a uma rotina de intenso deslocamento é um cotidiano cansativo. Ciro é o único pré-candidato que tem agido nessa intensidade e, como todos, não estará alheio a momentos em que julgue necessário se retirar.
Assim como ocorreu no evento de hoje, em que Ciro foi interrompido por um mediador desatento para receber dele uma pergunta repetida, é possível chamar atenção para o papel dos “mediadores” nesses debates.  A eles, caberia a regulação do tempo de fala de cada debatedor, a instauração das perguntas em diversos temas relevantes e a responsabilidade por regular a forma de participação do público presente.
Embora o papel dos mediadores seja muito ligado a uma administração justa das “regras do jogo”, nesses debates as regras possuiriam uma “geometria variável”, posto que não são as mesmas para diferentes convidados que detêm distintos tipos de capital simbólico.
Quando está em um momento de debate, Ciro Gomes faz questão de deixar claro que não espera total acordo com suas posições, mas afirma que espera ser ouvido – não pela pessoa que é, mas pela importância e gravidade dos temas que se propõe a debater.
Ao mediador do evento, caberia também lidar com as reações do público presente. Não foi o que ocorreu no evento de hoje em Belo Horizonte. Ao que parece, quando diante de um debatedor que deixe de simplesmente referendar os pontos de vista que os organizadores do evento esperam ver referendados, o mediador pode se tornar menos solidário ao debatedor e, com isso, deixa que o público presente entre na jogada de modo descontrolado, transformando o evento em um total desacordo.
Tirar a venda que encobria grandes problemas do Brasil, criar uma nova corrente de opinião que possa debater um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento são desafios complexos e não podem ser reduzidos a simples alimento processado ou fast-food político.