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Nacionalismo Brasileiro – Antídoto Contra Colonialismo

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Não é de hoje que a expressão “nacionalismo” invoca todo tipo de sentimento misto em seus intérpretes. Talvez porque mais de uma vez na história da humanidade foi usado como justificativa para atos indignos de receberem o adjetivo de “nacionalistas”.
Podemos imediatamente pensar no Brasil e sua ditadura militar ufanista que voraz e constantemente evocava o amor à bandeira como motor e justificativa para o enfrentamento de qualquer contradição. Os “vermelhos” precisavam ser caçados a pretexto de defender nossa nação que, naquela narrativa, estaria alvejada pelos próprios. Não é injustificado o receio com que o campo progressista encara a questão. Mesmo porque, detectam-se exemplos de Estados-nação violando direitos universais básicos a pretexto de “segurança nacional” aos montes ao longo da história. Contudo, tal tipo de manifestação não ocorreu como fenômeno isolado brasileiro.
Apesar disso, vários países (especialmente os do “centro desenvolvido”), mesmo explicitados tais impasses, nunca abriram mão de suas próprias formas de nacionalismo. A estima de certas instituições por suas populações se manifesta de formas diferentes, especialmente dada a gravidade de crises e guerras que atravessaram para atingir a situação em que se encontram.
Nada justifica, portanto, o “vira-latismo” que ocupa o vácuo deixado pela abdicação do respeito pelo Brasil, país que abriga desde este que vos escreve aos e às que isto leem, passando por milhões de brasileiros e brasileiras posicionados sob a mesma égide de contradições e impasses nacionais que acomete a população das mais diversas formas.
“Vira-latismo” aqui se refere à complacência com que se aceitam limites imaginários impostos ao desenvolvimento nacional traduzidos em todo tipo de fatalismo: “ora, o Brasil é assim e pronto”; “o brasileiro não tem competência para administrar seu país”. Esta é uma forma vil e cruel de pensamento, que limita nossas ações na forma mais inaceitável possível: como inerência de nossas origem e cultura.
Pessoas que compartilham da mesma realidade nacional, ainda que observando-a e acompanhando-a de pontos diferentes, separados por um oceano de desigualdade (tanto georreferenciada quanto econômica e socialmente medida) estão sob o manto de uma mesma estrutura que produz específicos tipos de contradições para cada parte envolvida.
O Brasil, fruto do acaso e da sorte disfarçada de azar, transformou-se em um legado a seu povo que reúne bênçãos e dádivas que só justificam seu atraso quando o raciocínio não nasce na mente dos que nele vivem. Como explicar que um país com potencial produtivo tão diverso encontre-se em posição tão vassala perante seus semelhantes e que os brasileiros e brasileiras tenham que lidar com contradições inexplicáveis que lhes assombram com mazelas como a fome ou a violência de origem nos conflitos gerados pela desigualdade?
A explicação só pode ser uma, como já se insinuou nestes escritos: justifica-se nossa situação com um pensamento que não é próprio do Brasil. Existe explicação palatável para que, no mesmo dia, um número minúsculo de famílias donas de um grande banco recebam R$ 9.000.000.000,00 (nove bilhões de reais) enquanto milhões de brasileiros e brasileiras fiquem obrigados a se humilhar metrópoles afora em busca da chance de seus estômagos não minguarem?
O brasileiro ou a brasileira que se contentar em saber que metade de seus 207 milhões de compatriotas têm uma renda equivalente à de cinco brasileiros específicos não pode estar pensando com uma imaginação brasileira. É quase estranho que uma auto-referida classe média assista a estes cinco como inspirações a serem seguidas, utilizando-lhes de motor e exemplo para suas justas e até necessárias ambições. É certo que tais ambições são centrais para o almejo da superação da situação em que nos encontramos, mas não é aceitável encarar como natural desigualdade tão predatória.

Colonialismo mental

Ultrapassado, porém, o obstáculo ideológico que vem de fora (o colonialismo mental), esses impasses se tornam ameaçados. Pois está dado o primeiro passo rumo à emancipação nacional que não mais se contente em justificar seu atraso com a explicação que os outros fornecem. Esse é o grande trunfo do nacionalismo brasileiro: ser, muito mais que nacionalismo, rebeldia e reação a imposições externas, que não são decisões nossas. Intransigência com o colonialismo e suas ascendências.
Nossa tragédia nacional, como muito bem descreve Roberto Mangabeira Unger, é negar a nossos semelhantes as ferramentas da transformação. Com isso, se quer dizer que as oportunidades não se universalizam. E se deixam de universalizar por justificativas incapazes de conferir aos brasileiros e às brasileiras uma explicação aceitável para a não-superação de nossas limitações.
Não é por menos: uma explicação lógica e aceitável não existe para a situação em que o Brasil se encontra demográfica, econômica e socialmente. As únicas que existem manifestam-se traduzidas como o interesse de minorias organizadas.
Passa da hora de se criar espaço fértil para a formulação de um novo mundo para o qual o Brasil pode servir de vanguarda como força contra-colonialista. Isso só será possível com o acesso às ferramentas transformadoras que faltam aos brasileiros e brasileiras. A inauguração de fato do que em algum momento se chamou “Novo Mundo” só pode estar na América. Nos trópicos, em um país que não passou por guerra própria alguma, mas vive em constante ataque proferido pela vassalagem do pensamento dominante e hegemônico.
Esse ano teremos a chance de dar um de muitos primeiros passos para começar a afirmar isso de forma estrutural representado na mensagem de Ciro Gomes. Não podemos desperdiçar oportunidade que se apresenta de forma tão escassa ao longo da história.