You are currently viewing Ciro não está sozinho, apesar de alguns sonharem com isso

Ciro não está sozinho, apesar de alguns sonharem com isso

  • Post author:
  • Reading time:15 min de Leitura

You can check this text in english here.
A verdade sobre a luta de Ciro Gomes contra o neoliberalismo no Brasil
O site Brasil Wire publicou, no dia 17 de maio, um artigo sem autoria intitulado “The Ciro Delusion” (O Delírio de Ciro), com o objetivo de atacar Ciro Gomes, seu partido político (PDT) e seus apoiadores, com muita desinformação. O site não fornece o nome do autor (talvez tenha sido intencionalmente anônimo). Depois de tentarmos, sem sucesso, entrar em contato com a Brasil Wire para publicar nossa respeitosa resposta, decidimos publicá-la em nosso próprio site. O artigo originalmente foi escrito em inglês, portanto, publicamos a resposta em inglês e em português.
O artigo do Brasil Wire já começa reivindicando seu objetivo: desacreditar os quarenta anos de carreira pública de Ciro. Segundo o autor anônimo, Ciro é o único que acredita em seu potencial como candidato à presidência. Bem, isso obviamente não é verdade. Ciro recebeu mais de 13 milhões de votos na eleição presidencial de 2018 e, atualmente, tem milhões de apoiadores em um esforço crescente entre diferentes partidos. E esse esforço começa, é claro, dentro de seu próprio partido, o PDT.
O PDT tem profundas raízes populares que remontam às conquistas mais importantes e às figuras políticas mais proeminentes da história moderna do país. Atualmente, o partido tem 1,1 milhão de filiados e é um dos maiores partidos políticos do Brasil. Desde 2016, o PDT vem concentrando seu esforço político interno no fortalecimento do que está sendo chamado de “Projeto Nacional de Desenvolvimento”, ou PND. O PND é basicamente a visão trabalhista de Ciro e do partido para um grande avanço no desenvolvimento do Brasil. Segundo Ciro Gomes, o PND é vital para que o país supere sua desigualdade e subdesenvolvimento.
Os resultados das eleições locais de 2020, por exemplo, fizeram com que o partido de Ciro se tornasse o principal ator da centro-esquerda brasileira. O PDT elegeu mais de 300 prefeitos em todo o país, incluindo várias capitais. Entre os partidos de esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula, ficou apenas em terceiro lugar, com 179 prefeitos eleitos.
À medida que esse esforço vem conquistando mais apoio dentro do PDT, também está transbordando para várias outras lideranças políticas, de diferentes partidos, que já defenderam publicamente Ciro como o político mais preparado para conduzir o Brasil nos desafios econômicos urgentes que iremos enfrentar.
Ciro tem quase quarenta anos de carreira pública. Atuou basicamente em todas as posições políticas possíveis. Foi Prefeito de Fortaleza, Deputado Estadual no Ceará, Deputado Federal do Ceará, Governador, Ministro da Fazenda e Ministro da Integração Nacional. Como prefeito e governador, Ciro teve as maiores taxas de aprovação popular de todo o país.
O Wire mente também ao afirmar que Ciro era ministro da Fazenda de FHC. Ele foi Ministro da Fazenda de Itamar Franco e ajudou a implantar a moeda brasileira, o Real, em 1994. Como Ministro da Integração Nacional, Ciro foi fundamental para a implantação da Transposição do Rio São Francisco, levando água a milhões de pessoas no nordeste do Brasil.
A relação de Ciro com o PDT começou no início dos anos 2000, com o fundador do PDT, Leonel Brizola. Desde então, Brizola viu Ciro como um líder político capaz de superar a submissão do Brasil à agenda neoliberal. Naquela época, Ciro já havia publicado três livros sobre os desafios econômicos brasileiros: (1) No País dos Conflitos ; (2) O Próximo Passo – Uma alternativa prática ao neoliberalismo; e (3) Um desafio chamado Brasil. Mais tarde, em 2020, Ciro publicou seu quarto livro, intitulado “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”.
Desde seu primeiro livro, publicado em meados dos anos 1990, Ciro Gomes tem sido uma voz ativa contra as práticas neoliberais no Brasil. Tem defendido sistematicamente um equilíbrio estratégico entre empresas públicas e privadas. Sempre defendendo que o Brasil deve implementar educação em tempo integral, reformar seu sistema tributário progressivamente, desenvolver sua economia industrial e sair da posição subdesenvolvida de exportador de commodities. Esses são alguns dos pilares centrais do Projeto Nacional de Ciro.
Desde 2009, Ciro critica publicamente a falta de comprometimento dos governos do Partido dos Trabalhadores na implementação desses pilares, fundamentais para superar o subdesenvolvimento. Seu principal argumento é que Lula e o Partido dos Trabalhadores expandiram a economia para os pobres, e como os pobres nunca receberam atenção do governo por décadas, a sociedade brasileira reconheceu esse esforço.
No entanto, Lula também deu mais do que nunca aos mais ricos. A elite brasileira prosperou como nunca. O Brasil experimentou um grande “boom” econômico devido ao aumento do valor de suas exportações, mas o governo Lula não aproveitou a oportunidade para transformar as estruturas econômicas do Brasil.
Para manter o apoio político dentro do Congresso brasileiro, o Partido dos Trabalhadores ainda se aliou às forças mais corruptas do Brasil. Michel Temer, uma das figuras mais importantes no impeachment de 2016, por exemplo, foi escolhido por Lula para ser o vice-presidente de Dilma Rousseff.
Temer foi preso após seu mandato como presidente. Os escândalos de corrupção levaram à prisão vários líderes de diferentes partidos políticos, incluindo alguns do próprio Partido dos Trabalhadores. Um exemplo clássico é Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo Lula, confessou seus crimes e literalmente devolveu R$ 100 milhões desviados de recursos públicos.
Durante o impeachment (ou, como Ciro prefere dizer, golpe) de 2016, Ciro foi um dos principais atores na defesa de Dilma Rousseff. O estado do Ceará, onde Ciro tem sua base política, foi o único que teve os necessários ⅔ de seus deputados federais votando contra o impeachment, um claro sinal de que a liderança de Ciro foi convertida em apoio à luta contra os golpistas que Lula ajudou a colocar no poder. Ele também visitou diversos veículos de imprensa, universidades e eventos políticos, constantemente alegando que o Brasil estava sob um golpe de estado.
Enquanto isso, Fernando Haddad, do PT, candidato à presidência de Lula em 2018, preferia dizer que “golpe era uma palavra forte” para definir o que estava acontecendo no Brasil. Isso teve, inclusive, um custo para as ambições presidenciais de Ciro. Tendo lutado fortemente contra o golpe, sua imagem se associou à do Partido dos Trabalhadores, logo no momento em que o PT estava sob forte rebuliço da mídia e tinha números gigantescos de rejeição, principalmente por causa do colapso econômico brasileiro e dos escândalos de corrupção.
Para alguns analistas, a posição de Ciro pode parecer contraditória. Como alguém poderia se apresentar fortemente como “contra o golpe” e, ao mesmo tempo, criticar o desastre econômico do Partido dos Trabalhadores? Essa é uma das razões pelas quais Ciro mudou de partido no início de sua vida política: nem todo mundo está pronto para uma análise honesta e sincera da realidade.
Ou pelo menos nem todos estão comprometidos com a verdade. Afinal, os últimos dois anos de Dilma no governo derrubaram o PIB do Brasil. Foi o terceiro pior resultado em séculos, apesar da agenda neoliberal de austeridade implementada pelo governo do PT. Em 2018, durante a eleição brasileira, Ciro não poupou críticas à política econômica do PT e aos aliados de Lula, principalmente aqueles que se aliaram a Michel Temer e que pressionaram pelo impeachment de Dilma.
No entanto, suas críticas ao compromisso do PT com a agenda neoliberal estavam sendo ignoradas pelo establishment, pois basicamente todas as outras forças políticas tinham programas econômicos “aceitáveis” visando o apoio ao setor financeiro do Brasil.
O autor do texto publicado na Brasil Wire também tenta “deslocar” o PDT para a direita do PT. É um erro comum entre alguns analistas políticos ver o espectro político como uma régua com assentos padronizados para cada partido ou cada pessoa. E é compreensível. Ainda que não seja justo colocar a deputada Tábata Amaral como referência nessa tentativa. Ela basicamente não está mais no PDT e já anunciou que vai para outro partido político.
Mas o principal falseamento da Wire é negar a liderança histórica do PDT na luta brasileira por justiça, soberania e educação desde o início dos anos 1930. Foi Getúlio Vargas que implantou o direito das mulheres ao voto, deu origem aos direitos trabalhistas básicos, criou a Petrobras, Eletrobrás, Vale e várias universidades em todo o país, por exemplo.
Outro exemplo foi o governo de Leonel Brizola no estado do Rio de Janeiro, que priorizou a educação básica em tempo integral nas comunidades pobres do Rio (você pode acreditar que nossos governos supostamente de esquerda nunca implementaram educação em tempo integral no Brasil? Isso os autores do texto não criticam)
De qualquer forma, o esforço recente de Ciro em discutir com políticos de direita, criticado pelo autor fantasma, não é diferente do esforço de Lula. O ex-presidente se reuniu recentemente com os principais protagonistas do golpe de 2016, aqueles que votaram a favor do impeachment contra seu próprio partido. Isso faz parte do jogo político e poucos conseguem jogá-lo. As perturbações que surgem com esses movimentos mostram apenas que Ciro está ganhando força política.

O que aconteceu em 2018?

A maioria dos militantes do PT argumenta que o eleitor de Ciro elegeu o Bolsonaro, mas os dados abaixo mostram que isso não é verdade. No entanto, o artigo publicado no Brasil Wire introduz uma suposição infundada de que os eleitores de Ciro são, na verdade, eleitores do Partido dos Trabalhadores, que estavam convencidos de que Ciro tinha mais chances de ganhar o Bolsonaro.

Fonte: TSE

Sabemos que não é verdade a primeira suposição. E a segunda, o autor só poderá provar após as eleições de 2022. O que sabemos é que, em 2018, as pesquisas apontavam que Ciro era o que tinha mais chances de vencer o Bolsonaro no segundo turno. Além disso, sabemos que os eleitores de Ciro foram os que mais votaram em Haddad no segundo turno da eleição brasileira de 2018.
O autor afirma falsamente que Ciro não endossou Haddad e também disse que “ele não iria se opor ferozmente ao presidente eleito”. Ambas as afirmações são falsas. A imprensa brasileira cobriu amplamente o apoio crítico de Ciro a Haddad e seu anúncio de que faria oposição a qualquer um dos vencedores em 2018.
Todos Com Ciro – 5 anos de trabalho de base orgânico
Achamos interessante que o autor fantasma reconhecesse o esforço organizativo da TodosComCiro entre 2017 e 2018, embora tenha havido alguns equívocos e mal-entendidos no texto. Foi realmente muito esforço e temos o prazer de falar sobre isso. A TodosComCiro era basicamente um grupo informal de jovens ativistas que lutou muito para fortalecer o apoio popular de Ciro em todo o país.
Um grupo de jovens fazendo um verdadeiro trabalho de organização de bases para eleger um presidente que pudesse finalmente colocar nosso país onde realmente merece estar – e o colocaremos.
A TodosComCiro começou a crescer. E as reuniões tornaram-se cada vez mais frequentes.
A cada dois meses, viajamos para São Paulo nos ônibus e voos mais baratos que podíamos encontrar. A maior parte do nosso grupo morava lá. Sempre que tínhamos que viajar para São Paulo, procuramos um apartamento na internet, reservávamos online, chegamos e trabalhamos na organização. Parece que um desses apartamentos era propriedade de um jornalista.
Desculpe desapontar o autor fantasma, mas isso é mera coincidência, já que o encontramos e reservamos pela internet. Era o mais barato que comportava o nosso grupo naquela época. Um monte de organizadores radicais trabalhando muito duro para ajudar da maneira que podiam.
Todo o trabalho da TodosComCiro era 100% orgânico, autofinanciado com algumas centenas de reais por mês e não tinha nenhuma relação com a campanha do Ciro ou com o PDT. Na verdade a campanha nem existia. Nem sabíamos se Ciro seria mesmo candidato.
Aliás, a revista Veja, já fracassou na tentativa de criar essa falsa relação entre nosso grupo independente e o PDT em 2018. Nesse período nosso grupo se reuniu com várias pessoas de esquerda. Sempre com o mesmo compromisso político com o Projeto Nacional. Pelo que me lembro, nenhum deles era do Partido dos Trabalhadores.
Estávamos estudando sobre organização e, ao mesmo tempo em que pesquisamos e aprendemos sobre como fazer, procuramos expandir nossa rede e trocar experiências e técnicas com organizadores do Brasil, de outros países da América Latina e também de outros países.
Os estudos, as pesquisas e os relacionamentos com outros organizadores nunca irão minar nossa consciência política. Como a campanha de Bernie Sanders também teve inovações tecnológicas interessantes, encontramos Zack Exley na internet com quem tivemos ótimas conversas, da mesma forma que nos encontramos com organizadores de outros movimentos sociais e sindicais.
Algumas pessoas tentaram deslegitimar os esforços de organização autônoma do TodosComCiro apontando uma conexão remota com pessoas de outros países que conhecemos. É meio compreensível. Alguns podem ter ficado preocupados com ingenuidade, outros podem não ter certeza sobre os limites do compromisso político do nosso grupo.
Houve até especulação de que nosso trabalho poderia ser uma espionagem de alto nível projetada pela direita brasileira. Nada disso é verdade. E não há nada para se envergonhar do que construímos. Estamos muito orgulhosos disso.
Aqui no Brasil, entretanto, há um grande problema de fundo: o Partido dos Trabalhadores, depois de anos no poder, basicamente monopolizou as relações com outros movimentos de organizações populares do Brasil com o resto do mundo. E qualquer esforço de organização fora de seu alcance não é considerado legítimo por eles e sua máquina de propaganda. Decidimos que não aceitaríamos isso. Criar pontes nacionais e internacionais é uma tarefa importante para todos nós que acreditamos que o Brasil precisa de uma alternativa para evitar o passado e superar o presente.
A propósito, antes do encontro de Haddad com Bernie Sanders em 2018, Guilherme Boulos e PSOL fizeram workshops com os organizadores de Bernie. Os irmãos Arturo Carmona, vice-diretor de política e o estrategista político Armando Carmona, ambos da campanha de Bernie Sanders, vieram ao Brasil em agosto de 2018 para ajudá-los na organização das eleições presidenciais de 2018. Parabéns ao PSOL. Eles também foram capazes de superar as barreiras do PT nas relações com organizadores em todo o mundo
Embora a campanha de Ciro não tenha nada a ver com o esforço de organização da TodosComCiro, pudemos estudar e aprender práticas de organização com todos que pudemos. E parece que nossos esforços trouxeram resultados, já que o escritor fantasma até confundiu nosso trabalho com a campanha central de Ciro. Consideramos isso um reconhecimento ao nosso trabalho de organização de base.
A TodosComCiro continuou se organizando após a eleição de 2018 e, recentemente, o grupo decidiu se transformar em um Núcleo de Base do PDT, após a maioria de nós ingressar no partido. Isso tornará nossos esforços ainda mais fortes.

Mas e o que vai ser de 2022?

Bolsonaro provavelmente tem 15-20% de apoio. E Lula também. Existem outros 50-60% das pessoas que ainda procuram uma opção. (felizmente, não vivemos em um país bipartidário). Tanto Bolsonaro quanto o PT tiveram a chance de implementar suas agendas para os brasileiros. Um deles teve 14 longos anos, e quebrou nossa economia seguindo a mesma agenda de seus antecessores. O outro falhou em proteger a vida de nosso povo e se mostrou fiel a uma orientação antidemocrática, sem falar na falta de capacidade que seu governo expôs ao mundo, minando décadas de boa diplomacia. Nenhum deles mudou nosso modelo econômico.
O Brasil tem um grande desafio pela frente. Não será nada fácil. Mas o principal desafio será virar a mesa e começar a debater o país que queremos ser daqui a 30 anos.
Vamos manter o mesmo modelo econômico que existe desde 1995 dentro das doutrinas neoliberais? Vamos continuar exportando commodities baratas e importando tecnologia cara? Vamos forçar nossos pesquisadores, engenheiros e cientistas a se tornarem motoristas do Uber? Vamos deixar a agenda neoliberal prosperar em nosso país enquanto todos os países do mundo estão recriando suas economias na era pós-covid?
Bem, nós acreditamos que não. É por isso que Ciro não está sozinho. Se você está interessado em unir esforços, inscreva-se em TodosComCiro.com e ajude-nos a organizar uma alternativa ao nosso país.